Andiamo a ballare! Com vocês, o Grupo de Danças Folclóricas Italianas Tarantolato!

Revista Casa D’Italia, Juiz de Fora, Ano 1, n. 2, 2020 – Luciana Scanapieco Queiroz | Andiamo a ballare! Com vocês, o Grupo de Danças Folclóricas Italianas Tarantolato!


“…funiculì, funiculà!
funiculì, funiculà!
‘ncoppa, jamme jà,
funiculì, funiculà!”

Trecho de “Funiculì, Funiculà”, composição de Luigi Denza e letra de Peppino Turco, 1880.

É com a famosa canção napolitana que o Grupo de Danças Folclóricas Italianas Tarantolato interage com o público, anunciando que o fim da apresentação está chegando, mas que a alegria e emoções despertadas ao longo do espetáculo permanecem ainda por muito tempo.

O grupo surgiu em Juiz de Fora, Minas Gerais, em 2000 junto com as comemorações dos 150 anos da cidade. À época, a cidade organizou um desfile de aniversário para celebrar as diversas etnias que compõem sua população. Nessa ocasião, membros e amigos da escola de idiomas “Cultura Italiana” foram convidados para representarem os povos italianos que migraram para a cidade.

Durante a grande onda de imigração italiana para o Brasil, chegaram em Minas Gerais imigrantes principalmente da região da Sardegna mas também em sua maioria das províncias de Salerno, Cosenza, Treviso, Verona, Arezzo, Padova e Lucca. O destino mais frequente eram as lavouras de café. No entanto, a industrial Juiz de Fora, por sua vez, atraía ao oferecer uma área urbana onde diversas atividades poderiam ser exercidas. De fato, mascates e negociantes italianos já circulavam pela região antes mesmo da política oficial de imigração de 1887. Por não terem a oportunidade de recriar suas antigas aldeias, como no caso das colônias rurais, os italianos urbanos tiveram de encontrar meios para manter vivas sua cultura e tradições.

Foram criadas sociedades de mútuo socorro e beneficência, desde 1878, algumas das quais também tinham por hábito realizar festas com músicas e comidas típicas italianas, além do ensino da língua. A Casa D’Italia criada em 1939, incentivada pelo nacionalismo crescente em ascensão na Itália durante a década de 1930, surge com o propósito de reunir todas essas sociedades. No entanto, são a fé o lazer e mais significativamente a música que conseguem agregar os italianos, independentemente de sua posição social, permanecendo presente especialmente nos lares, sendo transmitidos aos filhos e netos.

A grande presença de descendentes italianos na região e a memória despertada pelas músicas e danças contribuíram para o sucesso do grupo Tarantolato. O que seria inicialmente apenas um desfile representando os imigrantes, transformou-se em um grupo consistente com o objetivo de levar um pouco da cultura italiana à população através de seus espetáculos.

Tendo como sede a Casa D’Italia de Juiz de Fora, o grupo foi pouco a pouco aumentando seu repertório, realizando pesquisas sobre danças, trajes, músicas e cultura.

Através da Fundação Cultural Alfredo Ferreira Lage (FUNALFA) o grupo teve três projetos aprovados pela Lei de Incentivo à Cultura Murilo Mendes. O primeiro, em 2002, intitulava-se “Um tributo a D.Moraes”, autor da letra do Hino de Minas Gerais, cuja melodia foi inspirada na canção italiana “Viene sul mare”. A aprovação do projeto permitiu a criação da coreografia desta canção por César Lima, coreógrafo do Grupo Arcobaleno, do Rio de Janeiro e bailarino do Teatro Municipal do Rio de Janeiro. Em 2007 foi aprovado o projeto “O caipira e a tarantela”. Segundo as pesquisas, O “Ballo della Fagona”, ou “o Baile da Fogueira”, coreografado por César Lima, demonstra a influência italiana na cultura brasileira e especialmente mineira pois trata-se de uma quadrilha italiana que inspirou as quadrilhas dançadas nas festas juninas brasileiras, seguida de uma tarantela da região de Cosenza na Calábria, dançada principalmente na festa de São José.  Em 2013, através do projeto “Danzo pizzica e mangio pizza”, o grupo recebeu os dançarinos e coreógrafos italianos Marcella Bomba e Nando Silencio para um workshop de pizzica, dança da região da Puglia.

Ao longo de seus 20 anos de existência, o grupo fez mais de 360 apresentações tanto públicas como em festas particulares, em diversos estados. Dentre suas apresentações mais marcantes, estão o programa Zaccaro Italianissimo, na TV CNT-São Paulo e o IX Festival de Grupos Folclóricos Italianos em Curitiba. Além desses, destacam-se a Festa das Etnias em Juiz de Fora, Festa Alemã em Juiz de Fora, Feira da Providência no Rio de Janeiro e Festa Italiana de Belo Horizonte, das quais o grupo participou por diversos anos consecutivos.

Atualmente o grupo conta com 11 dançarinos, um tamburelista e uma apresentadora. Para participar não é preciso ser de ascendência italiana, apenas ter disposição e interesse em aprender e compartilhar um pouco da cultura que faz parte da memória afetiva de tantos brasileiros.

Andiamo a ballare!


Para saber mais:

LIPERI, Felice. Storia della canzone italiana. Roma: RAI-ERI, 2016.

BORGES, Célia Maia (Org.). Solidariedades e conflitos: histórias de vidas e trajetórias de grupos em Juiz de Fora. Juiz de Fora: Ed. UFJF, 2000.

Arquivo Pessoal do Grupo Tarantolato


Luciana Scanapieco Queiroz

Ex-dançarina do Grupo Tarantolato. É Bacharel e Licenciada em História pela Universidade Federal de Juiz de Fora, com especialização em Museografia e Patrimônio pela Rede Claretiano e Mestrado em Museologia e Patrimônio pelo PPG-PMUS Mast/Unirio. Atualmente trabalha como museóloga no Centro Cultural Câmara dos Deputados, em Brasília.


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