Revista Casa D’Italia, Juiz de Fora, Ano 2, n. 8, 2021 – Departamento de Cultura | ENTREVISTA: Ramón Brandão
1 Atuante na comunidade artística de Juiz de Fora com diversas exposições, livros lançados e projetos, como você vê a importância dos espaços de cultura para a produção artística da cidade?
Os espaços culturais são os espaços onde a produção cultural chega ao público através de exposições de artes visuais, espetáculos, lançamentos literários e outras manifestações. São lugares destinados também à discussão sobre o papel da arte na sociedade, e isto é fundamental para que a cultura permaneça viva e aberta a múltiplas visões, interpretações e críticas. Inclusive, com mostras virtuais que podem ampliar mais ainda sua abrangência com a chancela de instituições culturais; nós estamos assistindo isto agora, com o isolamento social.
2 A exposição em exibição na Galeria Online da Casa D’Italia “Semplicemente Disegno” é uma viagem por trabalhos ao longo de sua carreira, trazendo obras que datam de 1984 a 2020. Em 36 anos, como você avalia o cenário artístico em Juiz de Fora?
Penso que, no que tange às artes visuais, a cidade viveu as últimas décadas do século XX numa efervescência cultural, especialmente com surgimento do Espaço Mascarenhas, conquistado com muita luta e visto como esperança de novos tempos na arte, além da realização de várias mostras coletivas e individuais ocupando galerias e qualquer espaço que se abrisse a novas experimentações. Foi um momento especial! Contudo, acompanhando o que ocorreu no panorama artístico nacional, e mundial, toda aquela efervescência parece ter emanado mais luz do que calor, seguindo-se á um período, talvez mais difuso nas propostas; o multiculturalismo, cuja assimilação ainda é um desafio, quase como uma esfinge! Não vejo isto com desânimo, ao contrário: períodos assim são bons para reflexões e experimentações. Às vezes é preciso sair da pista de dança para ver como toca a banda, não é?
3 A Casa D’Italia de Juiz de Fora desde 2015, com a criação do Departamento de Cultura, vem desenvolvendo suas iniciativas em prol da cultura e suas manifestações artísticas buscando a valorização dos artistas da cidade e região. Como se deu a aproximação entre você e a instituição?
Foi numa exposição do Grupo Pulsartes realizada no final de 2019 que se deu minha primeira aproximação oficial com o Departamento de Cultura da Casa D’Itália. Depois com a notícia da possibilidade de seu desaparecimento, veio a necessidade de tentar fazer algo no sentido de uma mobilização em torno da Casa. Porém, anteriormente já conhecia o ateliê do artista Rogério de Deus, que funciona na Casa e também utilizei serviços digitais oferecidos por um escritório que ocupava uma das salas, e tinha conhecimento dos cursos do idioma italiano e gastronomia. Hoje, imagino seus corredores, salas e recantos serviriam de forma esplêndida como cenários para produções em cinema e vídeo. Lugares ainda a serem descobertos!
4 Qual sua memória mais remota com a Casa D’Italia de Juiz de Fora? Qual a importância do prédio e suas associações para você?
Quando não havia o prédio na esquina da Avenida Rio Branco com Rua Espírito Santo, a Casa D’Italia era mais visível, e talvez minhas caminhadas subindo a Avenida rumo ao Senac – onde fiz curso de desenhista de propaganda em 1980 – fez-me reparar aquele prédio anguloso com aparência severa escrito “DOMUS ITALICA” na fachada. Mais tarde entendi o que significava. Então através de jornaleiros italianos, descobri que era uma espécie de embaixada italiana em Juiz de Fora. Tempos depois descobri o estilo arquitetônico Art Deco, que imediatamente me fez lembrar o “prédio da Itália”. Assim, juntando impressões e memórias alheias, fui descobrindo-o aos poucos. Lembrando que frequentei os bailes populares que aconteciam no seu salão. Ah se suas paredes falassem!!!!
5 Agradecemos a atenção e pedimos que deixe um recado para os leitores da Revista Casa D’Italia.
Eu é que agradeço, e deixo a seguinte mensagem: A Casa não é apenas da Itália, é nossa! Vamos olhá-la como um patrimônio único que Juiz de Fora guarda; é nossa história que está ali, vamos abraçá-la!
Ramón Brandão
Artes pelo antigo Curso de Artes Visuais (Atual Instituto de Artes e Design, IAD) com Licenciatura plena em Educação Artística. UFJF; 1991.
Especialização em História Cultural pelo Programa de Pós-graduação em História da UFJF, 2003.
Mestre em História pelo Programa de Pós-graduação em História. UFJF, 2013.
Gostei muito das abordagem, e respostas sobre os assuntos enunciados, e nossos parabéns, Neide Pernisa
Excelente entrevista. Parabéns Ramon. Com suas respostas fiquei sabendo de muita coisa. Caminhei com você nesta entrevista e vamos torcer para que todos abracem esta casa nossa, como bem disse. Parabéns!
Me apaixonei no trabalho desse cara que descobri por acidente googlando por imagens, porém não encontro nenhum site ou rede social pra ver mais obras desse artista!! Ajuda aí!!