REVISTA CASA D’ITALIA – Ano 04, nº33, 2023

Ano 04, nº33, 2023 – Edição ‘A atuação e luta das mulheres na política’ – ISSN: 2764-0841

Editorial

A atuação e a luta das mulheres na política têm sido fundamentais para a garantia e a conquista de direitos e representatividade, não só das mulheres, mas também abrindo portas para outras minorias. É importante ressaltar, porém, que o aumento da presença das mulheres nesse cenário, ainda tão machista, é recente. Historicamente, as mulheres foram excluídas do espaço político e tiveram que lutar para ter voz e participação nas decisões que iriam influenciar direta e indiretamente suas vidas. Mesmo com as conquistas asseguradas ao longo dos anos, ainda há muito a ser feito para garantir a igualdade de gênero na política. 

No Brasil, apesar de representarem mais da metade da população brasileira, as mulheres ainda são sub-representadas nos cargos políticos. De acordo com o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), nas últimas eleições as mulheres representavam apenas 15% dos candidatos. Além disso, apenas 13% dos cargos no Congresso Nacional estavam ocupados por mulheres naquela época.

Também na Itália, a atuação dos movimentos feminsitas tem sido fundamental para a conquista de direitos. Apesar de ter uma das maiores taxas de participação feminina no mercado de trabalho da Europa, a Itália ainda enfrenta desafios em termos de representatividade política feminina. Nas últimas eleições, por exemplo, a porcentagem de mulheres eleitas para o parlamento italiano foi de apenas 32%. 

A atuação e o crescimento da presença das mulheres na política é essencial para garantir a inclusão de suas demandas e necessidades nas políticas públicas e para promover mudanças em questões como violência de gênero, igualdade salarial, acesso à saúde e educação de qualidade. Além disso, essa presença pode inspirar outras mulheres a se engajarem em atividades políticas e a lutar por seus direitos, fortalecendo assim a democracia. É preciso continuar lutando por mais espaço e poder político, a fim de construir uma sociedade mais igualitária e democrática.

Para discutir esse tema, neste volume da Revista Casa D’Italia, contamos com autoras pesquisadoras que trazem reflexões a respeito da atuação das mulheres na política, na arte, na ciência, na economia, dentre outros campos.    

A Revista Casa D’Italia é uma realização da Duplo Estúdio de Criação, em parceria com o Departamento de Cultura da Associação Casa D’Italia. Essa iniciativa tem o apoio das empresas e associações Imo Experiência Turística, Curso de Língua e Cultura Italiana, Grupo de Dança Folclórica Italiana Tarantolato, Estúdio de Arte Ponto Três. Contamos ainda com o apoio de Cristina Njaim Coury, Patrícia Ferreira Moreno, Rafael Moreira, Arlene Xavier Santos Costa, Louise Torga, Paulo Jose Monteiro de Barros, Vinícius Sartini, Ana Lewer, Thaiana Fernandes, Rafael Bertante, Paola Frizero, Ana Carolina de Paula Fellet e Lucimar Therezinha Grizendi, que, através da plataforma Apoia-se, nos incentivam mês a mês a continuar investindo na cultura e a trazer discussões a respeito da nossa sociedade.

Desejamos a todo mundo uma ótima leitura!

Editorial: Paola Maria Frizero Schaeffer.


Caça às bruxas, trabalho não assalariado e acumulação primitiva capitalista nos séculos XVI e XVII: Silvia Federici em diálogo

Revista Casa D’Italia – Ano 4, n. 33, 2023 – ISSN: 2764-0841 | Juiz de Fora, Minas Gerais
Fernanda Isaac | Caça às bruxas, trabalho não assalariado e acumulação primitiva capitalista nos séculos XVI e XVII: Silvia Federici em diálogo

Resumo:  No presente artigo, partindo-se da obra de Silvia Federici, é proposta a análise da relevância do trabalho feminino não assalariado – a saber, doméstico e de reprodução da força de trabalho na Europa Moderna dos séculos XVI-XVII –, para a constituição da acumulação primitiva capitalista. À vista disso, o exame do evento histórico da caça às bruxas europeia, nessa mesma época, constitui um elemento essencial para o entendimento do estabelecimento de um novo padrão de poder mundial. 

Palavras-chave: Caça às bruxas. Trabalho não assalariado. Acumulação primitiva capitalista. Silvia Federici.

Abstract: In the present article, based on the work of Silvia Federici, it is proposed the analysis of the relevance of wage-less female work – namely, domestic and reproduction of labor power in Modern Europe of the 16th and 17th centuries – for the constitution of primitive capitalist accumulation. In view of this, the examination of the historical event of the European witch-hunts, in that same period, constitutes an essential element for the understanding of the establishment of a new pattern of world power.

Key words: Witch-hunts. Wage-less labor. Primitive capitalist accumulation. Silvia Federici.

Riepilogo: Nel presente articolo, sulla base del lavoro di Silvia Federici, si propone un’analisi della rilevanza del lavoro femminile non salariato – cioè domestico e di riproduzione della forza lavoro nell’Europa moderna dei secoli XVI-XVII – per la costituzione dell’accumulazione capitalistica primitiva. Alla luce di ciò, l’esame dell’evento storico della caccia alle streghe europea, in quello stesso periodo, costituisce un elemento essenziale per comprendere la stabilimento di un nuovo modello di potere mondiale.

Parole chiave: Caccia alle streghe. Lavoro non salariato. Accumulazione capitalistica primitiva. Silvia Federici.

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Silvia Federici (1942-), escritora, professora e militante feminista marxista, reconhece o caráter incontornável que o evento histórico da caça às bruxas1 exerceu sobre a acumulação primitiva capitalista nos primórdios da chamada “Europa Moderna”, com destaque aos séculos XVI e XVII.

A partir de seu trabalho, a autora apresenta significativas contribuições para o campo historiográfico e sociológico da caça às bruxas – haja vista sua obra Calibã e a Bruxa: mulheres, corpo e acumulação primitiva (2017) –, e da naturalização e desvalorização dos trabalhos doméstico e reprodutivo, apoiados em uma concepção, social e historicamente forjada, do “feminino” – análise que também está presente em O patriarcado do salário (2021).

Apesar de considerar o conceito marxista de “acumulação primitiva” bastante útil, ao passo que “(…) identifica as condições históricas e lógicas para o desenvolvimento do sistema capitalista, em que ‘primitiva’ (‘originária’) indica tanto uma pré-condição para a existência das relações capitalistas, como um evento específico no tempo” (Federici 2017, 117-8), a autora afasta-se de Karl Marx (1818-1883)  à medida que aplica tal noção a outros contextos, ainda pouco perscrutados ou “ausentes em Marx” (Federici 2017, 26). A título de exemplo, o trabalho não assalariado – com ênfase naquele desempenhado por mulheres europeias em meio à acumulação primitiva capitalista –, constitui um enfoque analítico ainda pouco explorado. É imprescindível, portanto, o estabelecimento “(…) de uma perspectiva de gênero sobre a história do capitalismo” (Federici 2021, 83, grifo nosso).

Dito isso, a escritora italiana parte da ideia de que a “(…) acumulação de diferenças e divisões dentro da classe trabalhadora, [com] hierarquias construídas sobre o gênero (…) se tornaram constitutivas da dominação de classe e da formação do proletariado moderno” (Federici 2017, 119). 

E é nesse momento histórico – de “transição” para um novo modo de produção –, que o trabalho doméstico e de reprodução da força de trabalho foram, sucessivamente, circunscritos ao âmbito familiar/privado, assim como naturalizados às mulheres. Melhor dizendo, “a essência da ideologia capitalista é glorificar a família como ‘esfera privada’ (…)” (Federici 2021, 36).

Esse novo modelo familiar – nomeadamente “família nuclear” – é uma invenção ocidental (euro/estadunidense), criada pelo e para o capital (Federici 2021). Trata-se de uma configuração familiar cujo princípio organizacional é centrado na ideia de “gênero”, de forma a naturalizar papéis historicamente desempenhados por mulheres. Por conseguinte, a família torna-se, “(…) em essência, a institucionalização de nosso trabalho não assalariado (…)” (Federici 2021, 33), sucessivamente degradado. 

A nova família burguesa passa a ocupar um papel central no disciplinamento dos corpos e dos papéis sociais tidos como “femininos”, servindo como aliada aos interesses do Estado absolutista e da Igreja Católica – “daí a identificação da família com um ‘microestado’ ou uma ‘microigreja’ (…)” (Federici 2017, 193). Notavelmente, em meio a essa nova estrutura familiar, “a mulher perdeu muito de seu poder” (Federici 2017, 193). 

Federici (2017, 204) clarifica que “no caso das mulheres europeias, foi a caça às bruxas que exerceu o papel principal na construção de uma nova função social e na degradação de sua identidade social”, ocasionando na destruição de “(…) todo um universo de práticas femininas, de relações coletivas e de sistemas de conhecimento que haviam sido a base do poder das mulheres na Europa pré-capitalista” (Federici 2017, 204).

Com o transcorrer das perseguições e, por consequência, da eliminação de todas aquelas que representavam uma ameaça ao novo sistema em instauração, surge, no final do século XVII, um “novo modelo de feminilidade: a mulher e esposa ideal – passiva, obediente, parcimoniosa, casta, de poucas palavras e sempre ocupada com suas tarefas” (Federici 2017, 205). Logo, enquanto, no período da caça às bruxas, “(…) as mulheres tenham sido retratadas como seres selvagens, mentalmente débeis, de desejos insaciáveis, rebeldes, insubordinadas, (…) no século XVIII o cânone foi revertido” (Federici 2017, 205). De agora em diante, as mulheres passam a ser retratadas como “(…) seres passivos, assexuados, mais obedientes e morais que os homens, capazes de exercer uma influência positiva sobre eles” (Federici 2017, 205).

Percebe-se, portanto, que a dicotomia hierárquica criada entre homens e mulheres europeus é intensificada com a inserção de uma nova estrutura de poder capitalista. O homem é percebido como o “autor de si”, mas também como “(…) aquele ser que não é animal, bárbaro ou mulher” (Haraway 2019, 167, grifo nosso). 

A posição social das mulheres europeias, a seu turno, é diretamente associada a uma negação: elas são o “não homem”, a “inversão dos homens” (Lugones 2019, 359). A “bruxa”, por sua vez, representava a inversão do “novo modelo de feminilidade”, conforme anteriormente observado, de modo que podemos interpretá-la como a “inversão da inversão”. Assim sendo, fica evidente que, enquanto “o homem europeu, burguês, colono, moderno foi transformado em sujeito/agente (…)”, a mulher europeia burguesa “(…) não era entendida como um complemento desse homem, e sim como alguém que reproduzia a humanidade e o capital” (Lugones 2019, 358).

Paralelamente, nota-se o “desaparecimento da economia de subsistência que havia predominado na Europa pré-capitalista, [dissolvendo] a unidade entre produção e reprodução, típica de todas as sociedades baseadas na produção-para-o-uso (…)” (Federici 2017, 145). Em meio ao novo regime monetário capitalista, “somente a produção-para-o-mercado estava definida como atividade criadora de valor, enquanto a reprodução do trabalhador começou a ser considerada como algo sem valor do ponto de vista econômico e, inclusive, deixou de ser considerado um trabalho” (Federici 2017, 145).

Identificar o momento de separação entre produção e reprodução – o qual instituiu uma nova divisão sexual do trabalho – é fundamental para o entendimento de quais são os tipos de trabalho valorizados no âmbito socioeconômico atual, em comparação àqueles considerados como “não trabalho” (a saber, doméstico e reprodutivo) e, por isso, marginalizados.

Em síntese, se avaliarmos o processo da caça às bruxas europeia como uma tentativa de domesticação dos corpos femininos – delegados à esfera privada –,  bem como de naturalização de seu trabalho reprodutivo, compreende-se a “utilidade” que tais perseguições cumpriram à manutenção da ordem e do disciplinamento dos corpos femininos, em meio à acumulação primitiva capitalista. Em outras palavras, “o mundo devia ser ‘desencantado’ para poder ser dominado” (Federici 2017, 313).

[1] É necessário adicionar a ressalva de que as mulheres acusadas de bruxaria raramente eram “bruxas”, ou ao menos se categorizavam como tal. Isso porque as práticas “mágicas” integravam a esfera cotidiana pré-capitalista, de modo que a ideia de bruxaria como algo “maligno” – alvo de estranhamento e rejeição – provém da visão daqueles que a observam de fora (ex. Igreja Católica e  Estado absolutista). Federici (2017, 314) destaca que, “embora a caça às bruxas estivesse dirigida a uma ampla variedade de práticas femininas, foi principalmente devido a essas capacidades – como feiticeiras, curandeiras, encantadoras e adivinhas – que as mulheres foram perseguidas, pois, ao recorrerem ao poder da magia, debilitavam o poder das autoridades e do Estado, dando confiança aos pobres em sua capacidade para manipular o ambiente natural e social e, possivelmente, subverter a ordem constituída” (Federici 2017, 314, grifo nosso).


Referências bibliográficas:

Federici, Silvia. 2017. Calibã e a Bruxa: mulheres, corpo e acumulação primitiva. São Paulo: Elefante.

_______. 2021. Patriarcado do salário: Notas sobre Marx, gênero e feminismo (v. 1). São Paulo: Boitempo.

Haraway, Donna. 2019. Manifesto ciborgue: ciência, tecnologia e feminismo-socialista no final do século XX. Rio de Janeiro: Bazar do Tempo. 

Lugones, María. 2019. Rumo a um feminismo decolonial. Rio de Janeiro: Bazar do Tempo.  


Fernanda Isaac

É formada em Relações Internacionais pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) e graduanda em Filosofia pela Universidade de São Paulo (USP). Integrante do Grupo de Estudos “Variações Ecofeministas Críticas”, coordenado pela professora Dra. Elaini da Silva (PUC-SP). Entusiasta das artes, ciências sociais e filosofia contemporânea. E-mail para contato: fernanda.f.isaac@gmail.com


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A atuação e luta das mulheres na política brasileira: dilemas e perspectivas

Revista Casa D’Italia – Ano 4, n. 33, 2023 – ISSN: 2764-0841 | Juiz de Fora, Minas Gerais
Camila Galetti | A atuação e luta das mulheres na política brasileira: dilemas e perspectivas

Resumo: Este texto buscou problematizar a luta e a atuação das mulheres na política, a partir dos entraves colocados para que elas ocupem um espaço historicamente tido/lido como masculino. Problematizou-se a separação entre espaço público e privado, bem como quais corpos conseguem adentrar na esfera política. Afinal, o corpo feminino é terreno privilegiado das disputas em torno quer de novas identidades pessoais, quer da preservação de identidades históricas. 

Palavras-chave: Corpo. Feminino. Política. Mulheres.

Abstract: This text sought to problematize the struggle and performance of women in politics, based on the obstacles placed for them to occupy a space, historically considered/read as masculine. The separation between public and private space was problematized, as well as which bodies manage to enter the political sphere, after all, the female body is a privileged terrain of disputes around both new personal identities and the preservation of historical identities.

Key words: Body. Feminine. Policy. Women.

Riepilogo: Questo testo ha cercato di problematizzare la lotta e la performance delle donne in politica, sulla base degli ostacoli posti loro per occupare uno spazio, storicamente considerato/letto come maschile. La separazione tra spazio pubblico e privato è stata problematizzata, così come quali corpi riescano ad entrare nella sfera politica, del resto il corpo femminile è un terreno privilegiato di dispute sia intorno alle nuove identità personali che alla conservazione delle identità storiche.

Parole chiave: Corpo. Femminile. Politica. Donne.

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A atuação e a luta das mulheres progressistas

Quando se fala da atuação e da luta das mulheres na esfera política, consequentemente estamos nos referindo a uma história marcada pela resistência, afinal, os espaços nunca são dados às mulheres, mas, sim, conquistados após muitos embates travados nas mais diversas esferas, seja nas ruas, dentro das casas, nos espaços de trabalho ou até mesmo nas redes sociais, por meio do ciberativismo.

Para aglutinar as agendas que atravessam as mulheres e pensar estratégias de enfrentamento, a luta coletiva é essencial. Nesse sentido, os movimentos feministas cumprem um papel fundamental na ampliação da visibilidade das desigualdades de gênero, as quais fundamentam a sociedade e atravessam todas as relações sociais. Dar visibilidade a movimentos feministas, dentre outras coisas, significa pensar a sociedade a partir de outra posição que não seja pelo sujeito e pelo olhar masculinos. O viés masculinista permeia todo o pensamento social ocidental e, com a invisibilidade de mulheres enquanto produtoras de conhecimento e sujeitos da história, a experiência das mulheres é desvalorizada. 

Há décadas mulheres questionam binarismos, construções sociais, poderes simbólicos e seus mecanismos de operação (ADELMAN, 2009), com a intenção de problematizar a condição feminina na sociedade e mudar tal realidade que as coloca na condição de inferiores. 

Cabe ressaltar que as mulheres possuem experiências diferentes de vida, sofrem opressões que estão associadas à etnia, à sexualidade e à classe à qual pertencem. Consequentemente, apesar dos diversos movimentos de mulheres e feministas, elas possuem uma luta em comum: o fim das opressões de gênero. Fica evidente que não se pode universalizar a condição feminina, pois, ao se fazer isso, estaríamos homogeneizando a categoria mulher, como se existisse um único modo de ser e pertencer em sociedade. Por isso, um dos maiores desafios dos feminismos sempre foi pensá-la no plural, considerando recortes que são essenciais para a compreensão da vivência delas em sociedade. 

Os campos de ações do feminismo envolvem uma vasta gama de atores e atrizes individuais e coletivos, e de lugares sociais, culturais e políticos, que utilizam de variadas estratégias para disseminar suas lutas. Pode-se afirmar que um dos maiores desafios dos feminismos é realizar uma transformação, tanto no âmbito público quanto no privado. Dentro das casas de muitas mulheres, em ambientes de trabalho, escolas e universidades, há homens que se aproveitam da posição privilegiada que o patriarcado lhes proporcionou para humilhar, violentar e tratar de maneira desigual as mulheres. Por isso, é cada vez mais frequente o surgimento de ações coletivas que buscam dar visibilidade e nominar as inúmeras violências. Sobre esse aspecto, Verónica Gago reitera que pluralizar não é apenas fazer uma quantificação, uma lista de violências. É bem mais denso do que isso, propondo cartografar a simultaneidade da violência e  sua  inter-relação  com  o  sistema  capitalista,   com o  trabalho  doméstico  invisibilizado  e  com outras diversas formas de exploração que violentam as mulheres (Gago, 2020, 72).

A violência é uma infeliz realidade na vida das mulheres, seja no espaço privado ou no público. Porém, quando falamos de esfera política, tal violência se faz presente de inúmeras formas, desde o momento em que mulheres buscam adentrar esse espaço, que é considerado exclusivamente masculino. “A esfera pública, por oposição à esfera privada, designa o conjunto, jurídico ou consuetudinário, dos direitos e deveres que delineiam uma cidadania; mas também os laços que tecem e fazem a opinião pública”, escreveu Perrot (1988, 7-8), para introduzir a reflexão sobre a construção que permeou a relação das mulheres com o espaço público e político do início do século XX. 

Na explicação de Perrot, o papel da mulher na vida pública é sempre cheio de tensões. No mundo ocidental moderno, que construiu a cidadania como um princípio e um valor supostamente universal, as separações das esferas públicas e privadas organizaram a divisão racional dos papéis, das tarefas e dos espaços. As mulheres têm sido vistas como “naturalmente” inadequadas à esfera pública, dependentes dos homens e subordinadas à família (OKIN, 2008). 

Os direitos sociais das mulheres no século XXI vêm progressivamente legitimando-as no espaço público. Além disso, a crítica elaborada pelo movimento feminista contribuiu largamente para desconstruir visões do público e do privado como esferas neutras. Pelo contrário, mostrou que é nessa relação que as desigualdades de gênero são produzidas. 

Isso pode ser vislumbrado na relação das mulheres com a política institucional. No Brasil, por exemplo, nas eleições de 2018, a bancada feminina aumentou de 9% para 15% do montante de parlamentares. Ainda que os estados do Maranhão, Sergipe e Amazonas não tenham eleito nenhuma mulher, tal aumento é significativo, tendo em vista o histórico de estagnação nos 9% desde a redemocratização. 

Já nas eleições de 2022, houve um aumento de 17,7% de deputadas federais eleitas, do montante de 513 parlamentares. O que chama atenção neste aumento, porém, é que a maioria das eleitas pertence a partidos de direita ou centro-direita, o que evidencia que, a despeito dos avanços incontestes dos movimentos feministas brasileiros nas últimas décadas, o conservadorismo nunca deixou de estar fortemente presente na sociedade.

É evidente que, enquanto a luta das mulheres por representatividade na política, seja ela institucional ou não, avançam concomitantemente aumenta a resistência contra ela, na tentativa de silenciar o debate e também a concepção de que outros corpos precisam ocupar espaços historicamente compostos por homens brancos privilegiados.

Marielle Franco (1979-2018), mulher negra, ex-vereadora do estado do Rio de Janeiro que foi brutalmente assassinada em 2018, em seu primeiro discurso na Câmara dos Vereadores, disse: “eu acho que esse é o lugar do parlamento que a gente disputou tanto e do lema que a gente trata do “Eu sou porque nós somos”. “Somos inclusive nas diferença” (FRANCO, 2018)1.

Gostaria de ressaltar dois pontos na fala de Marielle. O primeiro se repousa na afirmação daquele espaço ter sido um lugar de disputa. Como afirmado no início do texto, os espaços não são dados às mulheres, sendo necessária muita luta para que esses corpos sejam e estejam representados na política institucional. Mas de quais corpos estamos falando? 

A questão do corpo constitui um eixo central para os movimentos feministas, no sentido de se engajar no momento histórico em que vivemos, em que o corpo é um terreno privilegiado das disputas em torno quer de novas identidades pessoais, quer da preservação de identidades históricas, da assunção de híbridos culturais ou das recontextualizações locais de tendências globais (ALMEIDA, 2004, 4). O corpo é político, é campo de batalha. O corpo não é apenas matéria, mas uma contínua e incessante materialização de possibilidades e recursos. Corpo revela-se na composição de afetos, recursos e possibilidades que não são “individuais”, mas que se  singularizam,  porque passam  pelo  corpo  de  cada  um,  enquanto  cada  corpo nunca é só “um”, mas o é sempre com outros, e com outras forças também “não humanas” (Gago, 2020,107)

O segundo aspecto que chama atenção na fala da ex-vereadora é que, apesar das diferenças, há uma luta em comum: o fim das opressões, o desejo de transformar a realidade e tornar a política um espaço seguro e de pertencimento as mulheres, nas suas multiplicidades corpóreas. Para tanto, é necessária a construção de um corpo coletivo, no sentido de demonstrar uma política que priorize a formação de alianças, sem desconhecer as diferenças e conflitos, e que  tenha  como  ponto  de  partida  o  anticapitalismo,  o  antirracismo  e  a  luta  contra o patriarcado (GALETTI, 2022, 240).

Com isso, percebemos que é de suma importância refletirmos sobre as inúmeras lutas travadas até o tempo presente para haver representatividade feminina na política brasileira. Não qualquer representatividade, mas, sim, uma que abarque os corpos dissidentes, as raças, etnias, sexualidades, classes, a multiplicidade do ser mulher em sociedade.

[1] Disponível em: https://avozdemarielle.com/#institute Acesso em 09/04/2023.


Referências bibliográficas:

ABOIM, Sofia (2012), Do público ao privado: uma perspectiva de gênero sobre uma dicotomia moderna. Revista Estudos feministas, Florianópolis. Disponível em: https://periodicos.ufsc.br/index.php/ref/article/view/S0104-026X2012000100006/21853

ADELMAN, Miriam (2009). A voz e a escuta: encontros e desencontros entre a teoria feminista e a sociologia contemporânea. São Paulo, Blucher Acadêmico.

ALMEIDA, Miguel Vale (2004), Outros Destinos. Ensaios de Antropologia e Cidadania, Campo das Letras.

GAGO, Verónica (2020), A potência feminista ou o desejo de feminista transformar tudo. São Paulo, Editora Elefante.

GALETTI, Camila (2021), O corpo coletivo e os afetos: um olhar sob os movimentos feministas na América Latina. Revista Simbiótica, v.8, n.2 (mai.-ago./2021). Disponível em: https://periodicos.ufes.br/simbiotica/article/view/36386/23836

OKIN, Susan M. Gênero (2008), O público e o privado. Estudos feministas, Florianópolis. Disponível em: https://periodicos.ufsc.br/index.php/ref/article/view/S0104-026X2008000200002

PERROT, Michele (1988) Os excluídos da história: Operários, Mulheres, Prisioneiros. Rio de Janeiro: Editora Paz e Terra.


Camila Galetti 

Mestra e doutoranda em Sociologia pela Universidade de Brasília (UnB). Pesquisadora do Projeto Mulheres Eleitas (LAPPCOM-UFRJ), Assessora parlamentar e pesquisadora de Neoliberalismo, Antifeminismo, Afetos e Teorias Feministas.


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Santa Clara de Assis e a luta na defesa do ideal franciscano

Revista Casa D’Italia – Ano 4, n. 33, 2023 – ISSN: 2764-0841 | Juiz de Fora, Minas Gerais
Ismael Nunes | Santa Clara de Assis e a luta na defesa do ideal franciscano

Resumo: O presente trabalho busca abordar algumas questões relacionadas à figura de Santa Clara de Assis e sua busca pela defesa dos ideais franciscanos dentro da comunidade fundada por ela, das irmãs clarissas. Assim faremos por meio da análise de algumas fontes escritas por ela, ou outras escritas por hagiógrafos. 

Palavras-chave: Santa Clara, pobreza, Francisco

Abstract: The present work seeks to address some issues related to the figure of Santa Clara de Assis and her quest to defend the Franciscan ideals within the community founded by her, the Clarissa sisters. We will do so through the analysis of some sources written by her, or others written by hagiographers.

Key words: Santa Clara, poverty, Francis

Riepilogo: Il presente lavoro cerca di affrontare alcune questioni relative alla figura di Santa Clara de Assis e alla sua ricerca per difendere gli ideali francescani all’interno della comunità da lei fondata, le suore Clarissa. Lo faremo attraverso l’analisi di alcune fonti scritte da lei, o di altre scritte da agiografi.

Parole chiave: Santa Clara, povertà, Francesco

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O século XII marcou o início de um processo que Jacques Le Goff chamou de “o apogeu da cidade medieval”(1992, p. 1). Depois de longos séculos de encolhimento, as cidades novamente reaparecem com grande vigor, em um processo que caminhou lado a lado com o renascimento do comércio. Nesse novo cenário urbano, do ponto de vista religioso e político, vemos o auge do desenvolvimento da cristandade (Le Goff, 1992). A Igreja concretizava, de diversos modos, sua ambição de desvencilhar e vencer o poder temporal, se afirmando como uma instituição de forte impacto político, não se limitando apenas ao campo espiritual (Le Goff, 1992).  

Mas isso não significava, necessariamente, que insatisfações e questionamentos pararam de surgir. É importante lembrar o cenário de contradições morais existente entre os membros da Igreja que, já no século XIII, expunham uma realidade que não se comunicava com os próprios adeptos do cristianismo. A opulência e a riqueza da Igreja revelavam uma contradição gigantesca entre o discurso evangélico e o testemunho dos líderes do rebanho cristão.   

Nesse contexto, em Assis, região da Itália que também experimentou um “intenso desenvolvimento urbano e da burguesia” (Oleiro, 2015, p. 6), viu-se nascer uma das figuras mais emblemáticas da história do cristianismo, Francisco de Assis (1182 – 1226). Le Goff, dizia que Francisco era 

um menino da cidade, filho de comerciante, sua primeira área de atuação é o meio urbano, mas a cidade ele quer levar o sentido de pobreza em face do dinheiro e dos ricos, a paz em vez daquelas lutas intestinas entre Assis e a Perúsia” (1999, p. 37).

Francisco resolveu, a partir da conversão, largar tudo e seguir “nu, o cristo nu.” E isso ele fez literalmente. Thomas Celano, seu principal biógrafo, dizia que “É aqui que o nu luta com o adversário nu e, desprezando as coisas que são do mundo, aspira apenas à justiça de Deus” (Fontes, 2005, p. 195).

A partir desse ponto de conversão, Francisco mergulha num estilo de vida religioso característico do novo momento vivido pela Igreja, as Ordens Mendicantes. Como lembra Edinha Maria de Jesus, as mudanças ocorridas no campo urbano também provocaram transformações no universo religioso, produzindo o que ela chama de uma “nova consciência religiosa” (2012, p. 11).      

As Ordens Mendicantes, principalmente as franciscanas e dominicanas, são um reflexo dessa nova consciência que buscava no ideal de vida da Igreja primitiva seu espelhamento. Os cristãos primitivos dividiam seus bens (Cf. Atos 2, 44) e viviam com pouco. À pobreza, nesse sentido, se atrela também a noção de caridade e atuação. 

Eles postulavam a volta ao estilo de vida de Jesus Cristo e dos apóstolos presente nos evangelhos onde viviam um passado cristão alicerçado na prática da pobreza, da humildade e da caridade (Jesus, 2012, p. 11).

Mas, fundada na liberdade, essa defesa da pobreza evangélica não comportava a noção de uma pobreza miserável. O crescimento urbano, cada vez mais ágil, revelava as contradições, os choques, os distúrbios sociais que evocavam “uma realidade de desigualdades e lutas que uma harmonia de fachada mascarara durante algum tempo” (Le Goff, 1992, p. 2).

Então, a pobreza defendida por Francisco e, logo depois, por Clara não era aquela nascida da desigualdade social, mas estava justamente em contraposição a essa. Tratava-se de uma pobreza livre e escolhida com finalidades evangélicas.

A jovem Clara de Assis era uma menina de família nobre, de grande opulência e riqueza (Oleiro, 2015), que, assim como Francisco, larga todos os seus bens em favor do seguimento a Cristo. Ela foi, sem equívoco, uma das mulheres que mais influenciou a religião no seu tempo. Foi a principal responsável pela criação da ordem feminina das irmãs clarissas, impingidas pela espiritualidade franciscana. Clara também foi a primeira mulher a escrever uma regra de vida religiosa a ser aceita pela Igreja. 

Entre as marcas principais dessa regra de vida estão o espírito desprendido expressado tanto pela pobreza quanto pelo desapego ao poder, uma vez que as irmãs de Santa Clara decidiam tudo em convenção, não sendo a Abadessa a única a decidir: 

Se alguém, por inspiração divina, vier ter conosco, com intenção de abraçar esta vida, a abadessa está obrigada a pedir o consentimento de todas as irmãs (Fontes, 2005, p. 1338).

Outra marca característica dessa regra de vida é a relação espiritual com os frades franciscanos que lhes davam o “alimento espiritual”. 

A Ordem dos Frades menores sempre nos facultou a graça de um capelão, com um companheiro clérigo de boa reputação e mais dois irmãos leigos de vida santa, que nos ajudam na nossa pobreza (Fontes, 2005, p. 1349).

Para defender a fidelidade aos princípios da pobreza, Clara não mediu esforços, lutou e confrontou, ao seu modo e sobre diversas estratégias, até mesmo os membros mais altos do clero. Defender a pobreza significa defender a própria essência do movimento franciscano.

É muito comum que as mulheres medievais sejam representadas como submetidas às vontades masculinas. Essa forma de enxergá-las não surge do nada. De fato, os homens medievais, sobretudo os ligados à Igreja, buscavam o silêncio feminino. Segundo Valeria Fernandes da Silva (2008), a clausura se tornou um modelo de normatização da vida religiosa durante o período da reforma eclesiástica. Após o IV concílio de Latrão (1215), as ordens religiosas passavam a ser obrigadas a optar por uma das regras de vida existentes, a de São Bento, escrita por volta do século VI, ou a de Santo Agostinho, escrita por volta do século V. Em nenhuma delas a pobreza era o ponto essencial. Era, sim, dado maior sentido à divisão de atuação das mulheres e dos homens religiosos, sendo as primeiras legadas ao silêncio, reclusão e oração e os segundos à opção pela vida reclusa ou pela missão evangelizadora no campo secular.

O cardeal Hugolino foi o principal expoente desse momento de normatização da vida religiosa. Ele promoveu um verdadeiro silenciamento no estilo de vida religioso feminino, enquanto definia e limitava o espaço de atuação das mulheres na religião.  

A proposta de Hugolino, em diversos aspectos, deixava a temática da pobreza como segundo plano, sendo até mesmo sacrificada em favor da clausura. Isso porque a noção de pobreza franciscana passava pelo exercício da caridade e do atendimento ao outro. 

Hugolino queria que as irmãs clarissas aceitassem ter posses. E contra isso Clara lutou enfaticamente, terminando por vencer, pelo menos em parte, primeiramente com a definição do “privilégio da pobreza” (1216) dado por parte do Papa Inocêncio III e, por fim, com a aceitação de sua regra de vida pelo Papa Inocêncio IV (1253). 

Mas parece que essa relação, um tanto tempestuosa e marcada por diversas nuances, entre Clara de Assis e Hugolino não terminou com a adoção de sua regra de vida. 

Hugolino se refere a Clara, em diversos momentos, de maneira afetuosa: “À caríssima irmã em Cristo e mãe de sua salvação, dona Clara” (CFE, 1220, p. 1). Mas os tons doces desse diálogo às vezes mascaram choques existentes entre a opinião de ambos. E Clara, com o respeito que detinha entre os membros da Igreja, terminou por ver muitas de suas queixas atendidas. 

Sua forma de resistência não era de maneira a promover uma distensão, ou mesmo uma divisão no seio do movimento religioso, mas antes agir, como também foi uma atitude de Francisco, no interior da própria Igreja. Assim, suas palavras são sempre muito firmes quando o assunto era proteger a essência da ordem, mas eram também palavras doces. 

Mesmo na velhice, quando Hugolino, agora papa Gregório IX, quis desobrigá-la da pobreza, ela, prontamente, respondeu: “Santo pai, de jeito nenhum desejo ser dispensada de seguir Cristo para sempre” (Fontes, 2005, p. 1391).  

Quando o papa negou a visita, sem prévia autorização, dos Irmãos de São Francisco ao mosteiro, recebeu como resposta de Clara que, “depois que nos privou dos que nos davam o alimento da vida, que nos tire, então, todos os frades” (Fontes, 2005, p. 1404). A fala significava um desejo de que os frades continuassem pregando para ela e para as irmãs. 

Então percebe-se um choque forte entre Clara e Gregório IX (Cardeal Hugolino) que não se restringe apenas ao que estou colocando em exposição, mas creio que sirva para percebermos o quanto ela lutou para defender suas posições, aquilo que acreditava ser a vontade de Deus, e o modo mais autêntico de seguir as propostas de Francisco.      

Devido às limitações próprias dessa proposta de exposição, terminamos apenas reafirmando o quanto Clara de Assis representa, para a história medieval, um tipo de mulher que detinha influência, respeito e autoridade. Ela era bem relacionada, possuía uma ampla rede de apoio que confiava e escutava as suas palavras, nos demonstrando que, para além do silêncio, existiam mulheres medievais que falavam e agiam, até mesmo, no seio do cristianismo. 


Referências bibliográficas:

Le Goff, Jacques. O apogeu da cidade medieval. 1989. 1ª. ed. São Paulo-SP: Martins Fontes Edit.

-Le Goff, Jacques. São Francisco de Assis. 1999. 10ª. ed. Rio de Janeiro – RJ: Record Ltda.

– Frei Dorvalino Francisco Fassini e col. Fontes Franciscani. 2005. 1. ed. Santo André – SP: Mensageiro de Santo Antônio.

-Valeria Fernandes da Silva. A Construção da verdadeira religiosa no século XV: o caso de Clara de Assis. 2008. Tese (Doutorado em História) UNB. Brasília – DF.

-Edinha Maria de Jesus. Do silêncio a palavra: o discurso de Santa Clara de Assis. 2012. Dissertação (Mestrado em Letras) UFSE. São Cristóvão -SE.

 –Carta Pessoal para Santa Clara. Centro Franciscano de Espiritualidade. Disponível em: http://centrofranciscano.capuchinhossp.org.br/fontes-leitura?id=1112&parent_id=1088 acessado em 23.03.2023


Ismael Nunes

Mestrando e Licenciado História pela Universidade Federal de Juiz de Fora.


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De pintora a diplomata: a atuação de Helena Pereira da Silva Ohashi na política brasileira no século XX

Revista Casa D’Italia – Ano 4, n. 33, 2023 – ISSN: 2764-0841 | Juiz de Fora, Minas Gerais
Paula Nathaiane da Silva | De pintora a diplomata: a atuação de Helena Pereira da Silva Ohashi na política brasileira no século XX

Resumo: Este texto tem por objetivo analisar e refletir a atuação da pintora brasileira Helena Pereira da Silva Ohashi na política brasileira no século XX, enquanto diplomata entre o Brasil e o Japão durante a Segunda Guerra Mundial e pós, ponderando suas contribuições para a política externa do Brasil no período.

Palavras-chave: Mulher artista. Política brasileira. Século XX. Helena Pereira da Silva Ohahsi. 

Abstract: This text aims to analyze and reflect on the performance of the Brazilian painter Helena Pereira da Silva Ohashi in Brazilian politics in the 20th century as a diplomat between Brazil and Japan during World War II and after. Pondering his contributions to Brazil’s foreign policy in the period.

Key words: Artist woman. Brazilian politics. 20th century. Helena Pereira da Silva Ohahsi.

Riepilogo: Questo testo si propone di analizzare e riflettere sulla performance della pittrice brasiliana Helena Pereira da Silva Ohashi nella politica brasiliana del XX secolo come diplomatica tra Brasile e Giappone durante la seconda guerra mondiale e dopo. Riflettendo sui suoi contributi alla politica estera del Brasile nel periodo.

Parole chiave: Donna artista. politica brasiliana. 20 ° secolo. Helena Pereira da Silva Ohahsi.

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Helena Pereira da Silva Ohashi foi uma pintora brasileira atuante no cenário artístico do Brasil no século XX, especificamente entre os anos 1911 e 1966, quando faleceu na cidade de Campinas, São Paulo. Filha do pintor brasileiro Oscar Pereira da Silva e casada com o também pintor japonês Riokai Ohashi, a trajetória de Helena é provocadora no sentido de que a artista, durante sua atuação profissional, esteve em trânsito para o Brasil, França e Japão (OHASHI, 1968).

Helena Ohashi atuou especificamente duas vezes como diplomata, sendo a primeira nos anos de 1940/1941, ao lado do esposo Riokai Ohashi, e em 1949/1950, quando regressou ao Brasil viúva e fixou residência em São Paulo.

No início dos anos 1940, o mundo já estava vivenciando os acontecimentos da Segunda Guerra Mundial (1939-1945). O Brasil e o Japão já mantinham relações internacionais desde 1895, com a assinatura do Tratado de Amizade, Comércio e Navegação. No ano de 1940, o Japão se aliou ao que seria denominado Eixo, tendo como participantes a Alemanha e a Itália, que visavam, de acordo com a nota publicada em O Jornal (1940, [5]), proteger seus interesses “no novo mundo que se formava” e garantir a supremacia “germo-italia na Europa e a japonesa no Extremo Oriente”.

Conforme A Noite (1941, [9]), no final do ano de 1941, temos notícias da formação dos Aliados, grupo de países que lutaram na guerra contra o Eixo, sendo os principais participantes os Estados Unidos, a Grã-Bretanha e a União Soviética. Até então, o Brasil não havia manifestado sua posição no conflito. 

Esse é o cenário da viagem que Helena Ohashi fez com o esposo Riokai para o Brasil, em missão diplomática para o Japão. De acordo com Helena, a jornada para o Brasil foi incentivada pelo novo cônsul brasileiro que chegou ao Japão no ano de 1939, Aloísio Magalhães. Como ela mesma afirmou, o Japão precisava de propaganda naquele período (OHASHI, 1968, 30). Em 28 de março de 1940, a missão de Helena e Riokai foi aprovada pelo Gaimushô (ministério das relações estrangeiras) e no mesmo período, de acordo com a pintora, ocorria em Tóquio uma missão brasileira por intermédio do cônsul Aloísio Magalhães.

Na ocasião da missão diplomática, Helena e Riokai realizaram exposições tanto na cidade do Rio de Janeiro quanto na capital paulista. Diversos periódicos da época noticiaram as exposições do casal Ohashi e reafirmaram o compromisso diplomático dos artistas nas terras brasileiras, como a nota publicada pelo Diário de Notícias (1940, 9), que indicou inclusive o patrocínio da viagem do casal pela Associação dos Artistas Brasileiros.

Os esforços do Japão para reforçar a amizade com o Brasil ficaram evidentes nessa viagem diplomática em que Helena trouxe consigo duas bonecas japonesas por intermédio do prefeito de Kobe, Sr. Koderé, para os prefeitos do Rio de Janeiro e de São Paulo. Segundo a nota de A Noite, foi “uma mensagem de paz e cordialidade” (1940, [2]).

Além disso, o casal artista ofertou ao então presidente brasileiro do período, Getúlio Vargas, a famigerada tela de Riokai, Castelo de Himeji. Pela nota de A Noite (1940), não tivemos notícias de que o presidente prestigiou a exposição dos artistas no Palace Hotel no Rio de Janeiro e buscou a tela. Entretanto, o periódico informa que a esposa de Getúlio, Darcy Vargas, compareceu à mostra e comprou, ao que sugere, alguma(s) tela(s) do casal Ohashi.

Ao desenrolar da Segunda Guerra Mundial, percebemos que os esforços de aproximação do Brasil, por intermédio de Helena Ohashi e seu esposo, em prol do Japão não obtiveram resultados positivos. No ano de 1941, através de A Noite (1941), temos conhecimento de que o Brasil declarou apoio aos Estados Unidos após o ataque japonês a Pearl Harbor e, no ano de 1942, as relações diplomáticas entre o Brasil e Japão foram desfeitas.

Dessa maneira, essa primeira tentativa de reafirmação de amizade do Japão em relação ao Brasil no contexto da Segunda Guerra, por meio da cultura, não obteve os resultados esperados, visto que os laços entre os dois países foram cortados. 

No ano de 1949, porém, já findada a Segunda Guerra Mundial, Helena Ohashi, viúva, regressou ao Brasil para fixar residência permanente em Campinas, São Paulo, e voltou novamente com uma missão diplomática em prol do Japão. Mais uma vez, a artista retornou ao Brasil com duas bonecas japonesas a pedido do prefeito de Kobe, uma para o prefeito do Distrito Federal, o general Mendis de Mornis, e outra para o de São Paulo, Astrubal da Cunha (Jornal de Notícias, 1949, 7).

A nota do Jornal de Notícias (1941) é bem clara ao relatar que as bonecas representavam os anos passados de intercâmbio que o Japão havia mantido com o Brasil e que Helena foi portadora de mensagens que demonstravam o interesse do Japão na participação brasileira na Exposição Internacional que ocorreria em Kobe, com finalidade de estreitar os laços comerciais entre os dois países.

Podemos inferir que essa última missão diplomática de Helena para o Japão, díspar da primeira, obteve resultados positivos posteriores, pois, no ano de 1952 as relações diplomáticas entre o Brasil e Japão foram restabelecidas.É possível perceber que o Japão, durante e após a Segunda Guerra Mundial, utilizou-se do soft power para estreitar suas relações com o Brasil, com interesses políticos e comerciais por meio da cultura e na imagem de Helena Pereira da Silva Ohashi. Como indica Ballerini (2017), a cultura é um poder que seduz, é eficiente em manipular sociedades e indivíduos sem o emprego da força bruta – hard power.


Referências bibliográficas:

A NOITE, Rio de Janeiro, 14 de novembro de 1940, p. 3.

A NOITE, Rio de Janeiro, 19 de novembro de 1940, p. [2].

A NOITE, Rio de Janeiro, 8 de dezembro de 1941, p. 1.

A NOITE, Rio de Janeiro, 9 de dezembro de 1941, p. 1.

BALLERINI, Franthiesco. Poder suave: arte africana; arte milenar chinesa; arte

renascentista; balé russo; Bollywood; Bossa-Nova; British invasion; carnaval; cultura mag japonesa;Hollywood; moda francesa; tango; telenovelas. São Paulo: Summus, 2017, 209 p.

O JORNAL, Rio de Janeiro, 28 de setembro de 1940, [p.5], ano XXII, nº 6.536.

JORNAL DE NOTÍCIAS, São Paulo, 16 de dezembro de 1949, p. 7.

OHASHI, Helena Pereira da Silva. Minha vida: Brasil, Paris, Japão. São Paulo: Indústria Gráfica Saraiva, 1968, 61 p.


Paula Nathaiane da Silva

Doutoranda em História no Programa de Pós-Graduação da Universidade Federal de Juiz de Fora, orientada pelo professor Dr.º Martinho Alves da Costa Júnior. Professora na rede pública de ensino – prefeitura da cidade de Santos Dumont e no superior – CEDERJ/UFRRJ nos cursos de licenciatura, atuando nas disciplinas pedagógicas.


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Marcas da (in)visibilidade da força de trabalho das mulheres camponesas de origem italiana em Minas Gerais/Brasil

Revista Casa D’Italia – Ano 4, n. 33, 2023 – ISSN: 2764-0841 | Juiz de Fora, Minas Gerais
Sandra Nicoli | Marcas da (in)visibilidade da força de trabalho das mulheres camponesas de origem italiana em Minas Gerais/Brasil

Sayad (2000) afirma que o fenômeno migratório está sempre associado a uma necessidade/ausência: o trabalho. E é pela ausência dele que diversas pessoas abandonam o espaço físico no qual está construído seu sentido de ser e de pertencer ao mundo. Necessidade essa que se transforma em utopia de uma possibilidade geradora de mobilidade social a ser adquirida em outro lugar. É o trabalho, ou sua necessidade/ausência, que está na origem do movimento migratório transoceânico a partir da segunda metade do século XIX. 

O projeto imigrantista de colonização, no Brasil, era baseado na pequena propriedade familiar. Sendo assim, “tratava-se, portanto, de um sistema de povoamento de territórios considerados ‘vazios demográficos’, com o objetivo de promover uma agricultura baseada na pequena propriedade familiar” (SEYFERTH, 2000, p. 309).

Segundo Bassanezi (1995), a corrente imigratória italiana, no Brasil, revelou as seguintes especificidades: houve o predomínio da imigração familiar e a região do Vêneto foi a que mais forneceu imigrantes. Destaca-se que, através dos relatos orais colhidos, durante as pesquisas de campo, é possível observar que os descendentes das famílias de origem italiana narram histórias e trajetórias carregadas de marcas da (in)visibilidade da poderosa “mão invisível” da vida cotidiana das mulheres camponesas no projeto migratório. 

Enfatiza-se que diversos recursos podem ser utilizados para a compreensão do processo migratório. Os aspectos vinculados à memória e à narrativa, coletadas por meio da metodologia da História Oral, são de fundamental importância para compreender tal processo, pois essa metodologia permite o registro de práticas, costumes, identidades e tradições referentes à origem. Contribuindo assim, na compreensão do processo de adaptação e de integração dessas famílias no novo ambiente (NICOLI, GENOVEZ e SIQUEIRA, 2013).

Atravessar o Atlântico, tendo em vista que as terras de onde vinham não lhes ofereciam grandes possibilidades, em busca de uma terra fértil não era uma aventura, mas uma oportunidade. Os camponeses vênetos viam na “América” a grande oportunidade para possuírem suas terras, produzirem e melhorarem suas condições de vida (NICOLI, 2014). 

Ao chegarem em terras brasileiras, diversas famílias se destinaram para áreas rurais. O percurso era longo até chegar às suas terras. Faziam picadas nas matas e caminhavam, às vezes, por mais de um dia, a pé, com os animais levando suas mudanças. As ferramentas eram os pertences mais importantes, pois com eles construiriam suas casas e lavrariam a terra. Chegavam a uma localidade onde tudo estava por se fazer. Improvisavam um local para se abrigar da chuva e dos animais, derrubavam a floresta, construíam suas casas e preparavam o terreno para a formação das lavouras conforme afirma Siqueira, França e Nicoli (2014). 

A mulher camponesa, juntamente com o marido, desenvolveu a tarefa de colonizar áreas inóspitas e produzir para o consumo, assumindo uma responsabilidade imensa: solteiras ou casadas, com filhos menores ou não, foram sobrecarregadas com a tarefa de prover os velhos, organizar o trabalho doméstico e manter a coesão familiar (TEDESCHI, 2013, p. 443).

Referindo-se ao trabalho demasiado e ao pouco poder das camponesas, Tedeschi (2004, p. 52) menciona que: “[…] seu trabalho nas atividades relacionadas à produção é considerado como de menor importância, ela apenas “ajuda”, mesmo quando seu tempo de trabalho nas atividades relacionadas à produção seja igual ou superior ao desempenhado pelo homem”.

Além do trabalho usualmente considerado como doméstico e a “lida” com o leite, também são atividades “próprias” das mulheres o cuidar das galinhas e outras pequenas criações, a horta, as ervas medicinais, as “miudezas”, como elas mesmas dizem. Além de todas essas tarefas, as agricultoras trabalham com o marido na roça, de onde sai o produto para venda. Mesmo assim, entre estes agricultores, costuma-se dizer que na roça as mulheres apenas “ajudam” (TEDESCHI, 2004, p. 51). 

Enfatiza-se que as doenças tropicais que infestavam as matas, que os animais selvagens e a dificuldade de acesso ao comércio local tornaram a vida dessas famílias extremamente difícil. Para as mulheres, em particular, essas dificuldades eram maiores. Sempre foram mulheres que se dedicavam ao trabalho, eram, de fato, mão de obra essencial na lavoura, pois tinham uma dura jornada de trabalho na roça. Isso além de parir seus filhos, cuidar, educar e cumprir todas as tarefas domésticas (SIQUEIRA, FRANÇA e NICOLI, 2014). 

[…] cotidianamente as mulheres realizam ou administram a realização de atividades, indispensáveis à sobrevivência e bem-estar de todos membros da família. Entre essas atividades estão aquelas que objetivam permitir que o trabalhador do sexo masculino descanse e renove suas energias para o trabalho produtivo do dia seguinte. Aí se incluem o preparo dos alimentos, a limpeza da casa, a lavagem e o conserto de roupas […] (TEDESCHI, 2004, p. 54).

Segundo Tedeschi (2013, p. 448), “[…] A mulher acresceu à sua lide domiciliar as tarefas na agricultura, operando-se uma combinação de trabalho doméstico e trabalho agrícola, mas sem visibilidade e reconhecimento enquanto sujeito”. A formação das lavouras e a criação do rebanho foi uma conquista que exigiu o trabalho de toda família no cotidiano. Nessa trajetória, as mulheres cumpriram importante função, pois, além do trabalho no campo, cuidavam de todas as atividades e organização da vida doméstica (NICOLI, 2014). 

Realça-se que as mulheres, pouca ou nenhuma influência tinham nas decisões do companheiro. A mudança para uma nova terra lhes era avisada e cabia às mesmas reunir os poucos pertences da família, os filhos e entregar-se ao que estava por decorrer. Muitas saíam do núcleo familiar sem nenhuma esperança de um dia retornar e ver seus familiares novamente (SIQUEIRA, FRANÇA e NICOLI, 2014). 

Tedeschi (2004) menciona que apesar de imprescindível para a reprodução da sociedade, o trabalho executado pelas mulheres, no âmbito rural, tem sido pouco valorizado e permanecido invisível. 

Com o advento da Revolução Industrial, no século XIX, o trabalho passou a ser dividido em duas esferas separadas: a unidade doméstica e a unidade de produção. Essa fragmentação correspondeu à divisão sexual das tarefas, cabendo ao homem o trabalho “produtivo” e assalariado, no mundo público, e à mulher a realização das atividades não-pagas e que não eram consideradas produtivas (TEDESCHI, 2004, p. 55).

Depois de um longo dia de trabalho na roça, elas tinham a jornada de trabalho doméstico. Segundo Colbari (1997), no período de formação dos cafezais o trabalho era ainda mais intenso e exigia a participação de toda a família, ou seja, crianças acima de seis ou sete anos já eram consideradas habilitadas para o trabalho nas atividades agrícolas. As crianças também enfrentavam uma rotina de muito trabalho na roça, apenas os menores de seis anos ficavam em casa. As crianças do sexo feminino, como as mulheres, também tinham dupla jornada de trabalho. Ainda criança, depois de um dia de trabalho na roça, a rotina diária de afazeres era prolongada com as obrigações domésticas. Não tiveram a oportunidade de frequentar a escola, e a infância foi vivida “no cabo de uma enxada”. 

Um trabalho que é feito a cada dia, 365 dias por ano, em casa e fora do lar, na comunidade, na igreja, sem ser remunerado, oferecendo apoio e segurança pessoal e permitindo socialização e desenvolvimento das pessoas. A magnitude e responsabilidade destas atividades indica […], a existência de uma “mão invisível” muito poderosa, que regulamenta a vida diária e permite que o mundo siga em ordem (TEDESCHI, 2013, p. 449). 

É possível enfatizar que as mulheres tinham uma carga horária de trabalho intensa. Muitas vezes, por despender longas horas de trabalho na lavoura, os serviços domésticos, de exclusiva responsabilidade delas, eram realizados à noite depois de um desgastante dia de trabalho. Elas eram mão de obra essencial na lavoura e substituíam a contratação de trabalhadores. Sua força de trabalho era fundamental para a produção e formação de poupança para investimentos na propriedade ou para a aquisição de novos pedaços de terras. Para conseguir realizar todas as atividades domésticas, em várias ocasiões trabalhavam depois que todos os membros da família estavam dormindo (NICOLI e SIQUEIRA, 2018).

Enfim, seria do homem o mundo da produção, entendido aqui como as atividades voltadas para o mercado, geradoras de renda monetária, aquelas normalmente tidas como “as que de fato importam”. Da mesma forma, seriam consideradas como “próprias” das mulheres as atividades referentes ao espaço privado, que envolvem toda a gama de responsabilidades relacionadas à reprodução da família (TEDESCHI, 2004, p. 52).

É fundamental registrar a importância da força de trabalho das mulheres no campo, não só como mão de obra na lavoura, mas também como força de trabalho a fim de conseguir dinheiro para a aquisição de bens que não produziam. Afirmar-se que essas mulheres foram essenciais, no trabalho doméstico, na lida com a lavoura e na provisão de recursos para as propriedades rurais (SIQUEIRA, FRANÇA e NICOLI, 2014).

Acreditamos que a capacidade de ruptura com a identificação entre trabalho agrícola e trabalho doméstico, e por conseguinte com a subordinação da esposa ao marido, é muito pequena no meio rural. Sustentado pelo patriarcalismo, o trabalho feminino no contexto da agricultura familiar está subordinado às regras do contrato conjugal, sendo, portanto, entendido como parte do sistema de obrigações recíprocas que se estabelece entre os cônjuges, […] (TEDESCHI, 2004, p. 60).

Segundo Colbari (1997), as famílias eram grandes e seguiam o modelo patriarcal, em que o marido tinha autoridade total sobre as mulheres, filhos e agregados; essas famílias eram extensas e os filhos só eram emancipados quando se casavam. Para as mulheres, o casamento representava apenas a mudança de casa e de mando, pois deixavam a casa paterna para ir para a casa dos maridos, seus novos senhores. 

Enfatiza-se que as mães eram as únicas responsáveis pela criação e educação dos filhos. De fato, as mulheres, com suas poderosas “mãos invisíveis”, sejam na sua força de trabalho e na persistência, foram muito mais que mães, donas de casa e educadoras. Foram os braços que derrubaram as matas, construíram as casas e formaram as lavouras, em pé de igualdade com seus companheiros (TEDESCHI, 2013; NICOLI e SIQUEIRA, 2018).

Nessa acepção, todo o percurso migratório e a formação das propriedades rurais, no Brasil, foi seguida de lutas e trabalho árduo, em que as mulheres também se fizeram presentes. No entanto, pouco aparece, demonstrando assim, a desvalorização de sua participação no cotidiano do trabalho doméstico, rural e sua invisibilidade social. Nesse sentido, as mulheres camponesas foram cruciais no desbravamento, povoamento, aquisição e ampliação das propriedades rurais em terras brasileiras. Desempenhando, portanto, um papel fundamental na formação e configuração do território geográfico e simbólico-cultural onde se estabeleceram.

Referências Bibliográficas:

BASSANEZI, M. S. B. Imigrações Internacionais no Brasil: um panorama histórico. In: PATARRA, Neide L. (Org) Emigração e Imigração internacionais no Brasil contemporâneo. São Paulo: FNUAP-1995. v. 1 p. 3-35.

COLBARI, Antonia. Familismo e Ética do Trabalho: o legado dos imigrantes italianos para a Cultura Brasileira. Rev. bras. Hist. [online] vol. 17 n. 34. São Paulo, 1997. Disponível em http://dx.doi.org/10.1590/S0102- 01881997000200003. Acesso em 04/07/2012.

NICOLI, Sandra. GENOVEZ, Patrícia Falco. SIQUEIRA, Sueli. Migração, Memória e Território: os descendentes de imigrantes italianos da Microrregião de Aimorés/MG. Revista História & Perspectivas. Dossiê: História do Crime, da polícia e da justiça criminal, v. 26, nº 49 (2013). Universidade Federal de Uberlândia. Instituto de História. Revista Eletrônica. http://www.historiaperspectivas.inhis.ufu.br

NICOLI, Sandra. I/Emigração em Itueta e Santa Rita do Itueto – a chegada dos nonos e a partida de seus descendentes para o norte da Itália. Dissertação (mestrado). Universidade Vale do Rio Doce, Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Gestão Integrada do Território, Governador Valadares, MG, 2014.

NICOLI, Sandra; SIQUEIRA, Sueli. A poderosa ‘mão invisível’ da vida cotidiana: a saga das mulheres camponesas no projeto migratório de famílias italianas em Minas Gerais/Brasil. In: Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress, 2017, Florianópolis/SC. Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos). Florianópolis/SC: UFSC, 2018. v. 1.

SAYAD, Abdelmalek. O retorno: elementos constitutivos da condição do imigrante. Travessia, número especial. 2000.

SEYFERTH, Giralda. A colonização Alemã no Brasil: Etnicidade e Conflito. In: FAUSTO, Boris (Org). Fazer a América. 2. ed. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2000.

SIQUEIRA, Sueli; FRANÇA, Ariele; NICOLI, Sandra. A saga das mulheres italianas e descendentes no projeto migratório. Microrregião de Aimorés/MG. In: ASSIS, G. O. (Org.); BENEDUZI, L. F.(Org.). Os pequenos pontos de partida: novos e (imigrantes) rumo à Itália no século XXI. 1 ed. Curitiba/PR: CRV, 2014, v. 1, p. 65-82. 

TEDESCHI, Losandro Antônio. MEU NOME É “AJUDA”. A vida cotidiana e as relações de poder, gênero e trabalho das mulheres trabalhadoras rurais na Região Noroeste do Rio Grande do Sul. Revista Contexto & Educação. Editora UNIJUÍ. Ano 19, n. 71/72, Jan./Dez. 2004, p. 45-64.

TEDESCHI, Losandro Antonio. A poderosa “mão invisível” da vida cotidiana: Reflexões sobre gênero e trabalho na história das mulheres camponesas. Revista História & Perspectivas. Dossiê: História do Crime, da polícia e da justiça criminal, v. 26, nº 49 (2013). Universidade Federal de Uberlândia. Instituto de História. Revista Eletrônica. http://www.historiaperspectivas.inhis.ufu.br


Sandra Nicoli

Mestre em Gestão Integrada do Território pelo Programa de Pós Graduação Stricto Sensu da Universidade Vale do Rio Doce – Univale (2014). Possui graduação em Licenciatura Plena em História pela Universidade Vale do Rio Doce (2007). Atuando nos seguintes temas: Migração Internacional, Território e Cultura. Conselheira do Comitato Degli Italiani all Estero di Minas Gerais – Com.It.Es MG (2022-2027). Coordenadora da Commissione Cultura – Com.It.Es MG. Membra do Conselho Deliberativo do Patrimônio Cultural de Governador Valadares – MG (2018-2022). Avaliadora Ad Hoc da Unesc em Revista. Integrante na equipe de Projetos de Pesquisa do Laboratório Núcleo de Estudos Multidisciplinar sobre o Desenvolvimento Regional – LABNEDER/UNIVALE. Colaboradora nas edições da Revista Casa D`Itália. Associada à Ponte entre Culturas Minas Gerais – PEC MG. Professora da disciplina de Metodologia Científica nos cursos de Graduação e Pós Graduação Lato Sensu da Universidade Vale do Rio Doce – Univale. E-mail: sandra.nicoli@comitesmg.org.br


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Em Constante Luta: A Representatividade Política de Mulheres na Arena Estatal

Revista Casa D’Italia – Ano 4, n. 33, 2023 – ISSN: 2764-0841 | Juiz de Fora, Minas Gerais
Erika Neder | Em Constante Luta: A Representatividade Política de Mulheres na Arena Estatal

Resumo: O objetivo deste artigo é discutir a atuação e luta das mulheres na política, abordando questões como a representação feminina nos cargos eletivos, as dificuldades enfrentadas pelas mulheres no ambiente político e as conquistas alcançadas nos últimos anos. Através da análise de diversos estudos e pesquisas sobre o tema, principalmente no Tribunal Superior Eleitoral, busca-se compreender a importância da participação feminina na política e as estratégias adotadas pelas mulheres para garantir sua presença e voz nos espaços de poder.

Palavras-chave: Mulheres. Política. Participação. Representatividade. Luta.

Abstract: The purpose of this article is to discuss the role and struggle of women in politics, addressing issues such as female representation in elected positions, the difficulties faced by women in the political environment and the achievements achieved in recent years. Through the analysis of several studies and research on the subject, mainly in the Superior Electoral Court, we seek to understand the importance of female participation in politics and the strategies adopted by women to guarantee their presence and voice in spaces of power.

Key words: Women. Politics. Participation. Representativeness. Struggle.

Riepilogo: El propósito de este artículo es discutir el papel y la lucha de las mujeres en la política, abordando temas como la representación femenina en los cargos de elección popular, las dificultades que enfrentan las mujeres en el ámbito político y los logros alcanzados en los últimos años. A través del análisis de varios estudios e investigaciones sobre el tema, principalmente en el Tribunal Superior Electoral, buscamos comprender la importancia de la participación femenina en la política y las estrategias adoptadas por las mujeres para garantizar su presencia y voz en los espacios de poder.

Parole chiave: Mujeres. Política. Participación. Representatividad. Lucha.

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INTRODUÇÃO

A presença das mulheres na política é uma questão fundamental para a construção de uma sociedade mais democrática e igualitária. Apesar dos avanços obtidos nos últimos anos, a participação feminina nos cargos políticos ainda é bastante reduzida, sendo necessário discutir as razões que impedem uma maior representação das mulheres nos espaços de poder. Nesse sentido, este artigo tem como objetivo principal analisar a atuação e luta das mulheres na política, abordando as dificuldades enfrentadas pelas mulheres nesse campo e as conquistas obtidas nos últimos anos.

A participação das mulheres na vida pública brasileira enfrenta uma série de desafios devido às barreiras de gênero em uma sociedade que historicamente se baseou em uma lógica machista e patriarcal. Somente a partir da primeira metade do século XX é que as mulheres começaram a obter conquistas de direitos de cidadania de forma mais acelerada, graças à intensificação das lutas feministas tanto no Brasil quanto no mundo. Importante relembrar que o voto feminino, um dos principais marcos da vida pública política das mulheres, só ocorreu em 1932, após uma longa jornada de lutas pelos direitos civis e políticos das mulheres.

REPRESENTAÇÃO FEMININA NA POLÍTICA

A participação das mulheres na política tem sido um tema relevante na sociedade há décadas. Ainda assim, a representação feminina em cargos políticos é extremamente reduzida. De acordo com dados do Tribunal Superior Eleitoral (BRASIL, 2023), nas eleições de 2020, apenas 33,8% das candidaturas foram de mulheres, sendo que somente 13,5% dos cargos de prefeitas foram ocupados por mulheres.

A participação das mulheres na política tem sido objeto de preocupação de organismos internacionais, governos e organizações da sociedade civil em todo o mundo. Apesar de existirem avanços nos últimos anos, a participação feminina nos cargos políticos ainda é bastante reduzida em muitos países. No Brasil, por exemplo, as mulheres representam apenas 15% das cadeiras na Câmara dos Deputados e 16% no Senado Federal, de acordo com dados de 2021 do Tribunal Superior Eleitoral (BRASIL, 2023).

Essa baixa representatividade das mulheres na política é resultado de diversos fatores, como o machismo estrutural presente na sociedade, a falta de financiamento para as candidaturas femininas e a sub-representação de mulheres nos partidos políticos. Além disso, a falta de referências femininas na política também pode desestimular a participação das mulheres nesse campo (RIBEIRO, 2023).

A baixa representatividade das mulheres na política é uma realidade preocupante em todo o mundo. Isso se deve a diversos fatores, que vão desde questões culturais e sociais até a falta de incentivos e oportunidades para as mulheres se engajarem na política.

Um dos principais fatores que contribuem para a baixa representatividade das mulheres na política é o machismo estrutural presente na sociedade. Ainda hoje, muitas pessoas acreditam que a política é um espaço exclusivamente masculino, o que acaba desestimulando as mulheres a se envolverem nessa área. Além disso, as mulheres muitas vezes são subestimadas e discriminadas em razão de seu gênero, o que pode afetar sua autoestima e confiança na hora de buscar uma candidatura política.

Outro fator importante é a falta de financiamento para as candidaturas femininas (SILVA; CERVI, 2017). Em muitos países, os partidos políticos costumam investir mais em candidaturas masculinas, o que acaba deixando as mulheres em desvantagem. Isso acontece porque muitas vezes as mulheres não têm acesso aos mesmos recursos financeiros que os homens, o que torna mais difícil para elas competir em igualdade de condições.

A sub-representação de mulheres nos partidos políticos também é um problema que contribui para a baixa representatividade feminina na política. Em muitos casos, as mulheres têm dificuldade para serem selecionadas como candidatas pelos partidos, seja por causa de preconceitos de gênero, seja por causa de uma cultura interna que favorece os homens. Isso acaba limitando as opções das mulheres e reduzindo a diversidade de opiniões e ideias na política.

Essa falta de representatividade feminina na política pode ser atribuída a diversos fatores, como a ausência de políticas públicas voltadas para a promoção da igualdade de gênero, a falta de incentivos para que as mulheres se candidatem e as dificuldades enfrentadas pelas mulheres durante as campanhas eleitorais, como a falta de recursos financeiros e o preconceito de gênero.

DIFICULDADES ENFRENTADAS PELAS MULHERES NA POLÍTICA

Além da baixa representatividade feminina nos cargos políticos, as mulheres enfrentam diversas dificuldades no ambiente político. Uma das principais é o preconceito de gênero, que muitas vezes leva a uma sub-representação das mulheres nos espaços de poder. Isso pode ser visto, por exemplo, no tratamento dispensado pela mídia às candidatas mulheres, que muitas vezes são avaliadas de forma diferente dos candidatos homens, sendo submetidas a um escrutínio muito mais rigoroso.

Infelizmente, a baixa representatividade feminina nos cargos políticos é uma realidade em muitos países ao redor do mundo. As mulheres enfrentam diversas barreiras quando tentam ingressar na política, e uma das principais é o preconceito de gênero.


Referências bibliográficas:

BRASIL, Comissão Gestora de Política de Gênero do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) disponível em https://www.tse.jus.br/comunicacao/noticias/2023/Janeiro/tse-mulheres-portal-reune-estatisticas-sobre-eleitorado-e-participacao-feminina-na-politica. Acesso em 21.03.2023. 

RIBEIRO, Paulo Silvino. Participação da Mulher na vida política; Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/sociologia/participacao-mulher-na-vida-politica.htm. Acesso em 21 de março de 2023.

MATIAS, Ana Flávia Alves;  PERGENTINO, Érika de França. Mulheres na política: análise da efetividade das cotas de gênero como mecanismo de representatividade feminina. REVISTA JURIDICA VERBA LEGIS, nº XIV, 2021, disponível em https://apps.tre-go.jus.br/internet/verba-legis/2021/ Acesso em 21.03.2023.

SILVA, Bruno Fernando da; CERVI, Emerson Urizzi. Padrões de financiamento eleitoral no Brasil: as receitas de postulantes à Câmara dos Deputados em 2010 e 2014. Revista Brasileira de Ciência Política, Brasília, n. 23, p. 75-110, maio/ago. 2017. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/rbcpol/n23/2178-4884-rbcpol-23-00075.pdf. Acesso em 21.03.2023.

Erika Neder

Advogada, professora, mestre em direito pela UFJF, doutoranda em CSO pela UFJF.


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Mulheres pesquisadoras, produção científica e luta por direitos

Revista Casa D’Italia – Ano 4, n. 33, 2023 – ISSN: 2764-0841 | Juiz de Fora, Minas Gerais
Stella Ferreira Gontijo | Mulheres pesquisadoras, produção científica e luta por direitos

Resumo: No presente artigo discutimos o suposto caráter neutro da ciência, e trouxemos um breve panorama  do lugar que as mulheres ocupam nessa produção, a fim de refletir sobre o papel que as pós-graduandas desempenham na transformação do conhecimento produzido. Buscaremos também apontar os limites da carreira científica para as mulheres, pensando alguns caminhos já traçados, e outros a traçar, para que possamos avançar no espaço ocupado na pós-graduação, compreendendo o papel da auto organização e da luta por políticas públicas.

Palavras-chave: Mulheres da ciência. Políticas públicas. Estudos Subalternos.

Abstract: In this article, we discuss the supposed neutral nature of science, and bring a brief overview of the place that women occupy in this production, in order to reflect on the role that graduate students play in transforming the knowledge produced. We will also seek to point out the limits of the scientific career for women, thinking about some paths already traced, and others to be traced, so that we can advance in the space occupied in postgraduate studies, understanding the role of self-organization and the struggle for public policies.

Key words: Women in science. Public policy. Subaltern Studies

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Quando falamos de conhecimento devemos ter em mente que este não é neutro ou independente do local e motivação de sua produção. Ter esse entendimento não invalida seu caráter científico. Por isso, podemos perceber a transformação do conhecimento produzido quando levamos em conta a expansão de sujeitos que hoje estão ocupando os espaços de formulação. Mulheres, pessoas negras, LGBTs, indígenas e quilombolas trazem outros questionamentos como ponto de partida para as questões a serem desenvolvidas com o rigor do método científico.

No Brasil, o principal local de produção da ciência é nas Universidades públicas, e mais propriamente na pós-graduação, que é responsável por 90% da pesquisa feita no país. No início dos anos 2000, com políticas públicas encampadas por um campo progressista e popular que assumiu o governo federal, vimos o avanço no ingresso de sujeitos historicamente excluídos dos espaços universitários. Hoje, pouco mais de vinte anos depois, essas mesmas pessoas ingressam na pós-graduação e passam a protagonizar parte da ciência produzida no país. Mas, os desafios não foram e não são poucos. Para que o ingresso se transforme em permanência, precisamos pensar em políticas públicas específicas, ou não teremos um avanço real.

É o caso de quando olhamos para a realidade das mulheres cientistas, impacto visível quando observamos os dados que correspondem da iniciação científica à docência. Levando em conta apenas o financiamento para as mulheres pesquisadoras a partir das agências de fomento nacionais (CAPES e CNPq), 60% das bolsas do CNPq na iniciação científica são para as mulheres, mas, no doutorado a quantidade cai para 50% do total de bolsas financiando pós-graduandas. Para o financiamento no topo da carreira, das chamadas bolsas de produtividade concedidas pela CAPES, apenas 35% são destinadas às pesquisadoras.

Participação de mulheres na pós-graduação de 2004 à 2020 (GEEMA-UERJ

Uma pesquisa do grupo LEES, vinculado à Unicamp, mostrou que, “[…] enquanto 51% dos títulos de doutorado entre 1996 e 2014 foram obtidos por mulheres, o número de mulheres docentes nas universidades cresceu apenas 1%, de 44,5% para 45,5%.” (JORNAL UNESP, 2023). Ou seja, o investimento em jovens cientistas não reflete na quantidade de mulheres que seguem uma carreira científica. Essa diminuição de presença das mulheres nos cargos mais elevados da carreira acadêmica e científica não está descolada da realidade geral das mulheres na sociedade brasileira.

O patriarcado atua para a negação do espaço da ciência e da produção do conhecimento às mulheres, assim como para sua exclusão de outras profissões ligadas ao espaço público, entendidas como “racionais” e de trabalhos remunerados. Podemos compreender o patriarcado como uma estrutura de organização sócio-cultural que garante a dominação masculina sobre as mulheres. Nesse sentido, o conhecimento hegemônico produzido na sociedade ocidental, ou na verdade tudo aquilo que é reconhecido como conhecimento e ciência, parte de uma racionalidade eurocêntrica que é masculina, cristã, branca e heteronormativa, e que tem como objetivo final a manutenção da mesma ordem de dominação de gênero, classe e raça. 

Uma das formas de  ação do patriarcado é através da divisão sexual do trabalho, que histórica e culturalmente definiu o que seriam tarefas do gênero masculino e do feminino, delegando as funções  remuneradas, públicas, da política e da produção do conhecimento aos homens, relegando às mulheres o espaço privado do lar, as tarefas de cuidado, sustentabilidade e reprodução da vida, que passaram a ser não remuneradas e camufladas sob um discurso do afeto. Assim, estabelece-se a dependência econômica, patrimonial, emocional e política das mulheres. Estas perdem sua autonomia e veem seus conhecimentos serem perseguidos e negados: “[…] é esse trabalho feminino que permite que o homem seja liberado para atender a exigências profissionais que lhe permitem maior remuneração e a construção de uma carreira, assim como para usufruir o tempo livre – livre da rotina profissional, mas também das exigências da vida doméstica.” (BIROLI, 2014, p.35) 

Nessa discussão, não podemos desconsiderar a interseccionalidade (AKOTIRENE, 2020), que significa que as questões de classe, raça e sexualidade contribuem para complexificar esse cenário. Ou seja, não existe uma mulher única e universal, mas diversas mulheres, que partem de distintas realidades. Assim como existe a diferença, o impacto das estruturas da sociedade atingem de forma diferente sujeitos diferentes. Assim, se são poucas as mulheres na ciência e na pós-graduação, são ainda menos quando se transversaliza o recorte de raça e classe. Segundo levantamento divulgado em informativo do Parent  in Science (2021), do número de pesquisadoras mulheres cadastradas na plataforma Lattes do CNPq, apenas 3% se declaram  como mulheres pretas e 12% como pardas.

O impacto do patriarcado e da divisão sexual do trabalho na pós-graduação reflete na  exclusão das mulheres desses espaços e, consequentemente, em um menor número de pesquisadoras seguindo uma carreira científica. Como já vimos no levantamento já citado do LEES da Unicamp a respeito dessa ausência, devemos relacionar os dados com a discussão sobre o patriarcado e a divisão sexual do trabalho. Nesse sentido, a maternidade tem um papel central para a sobrecarga e o afastamento das pesquisadoras da forma como se dá as práticas acadêmicas atualmente. 

O levantamento feito pelo movimento Parent in Science mostra como as mulheres, principalmente as negras e mães, foram as que tiveram sua produtividade acadêmica mais afetada ao longo da pandemia, acirrando ainda mais as desigualdades de gênero e escancarando o impacto da divisão sexual do trabalho e da maternidade na vida das mulheres cientistas, reforçando a maternidade como fator central a ser considerado quando tratamos da produtividade e da participação das mulheres na ciência.

Por isso é fundamental a organização das pesquisadoras em movimentos auto – organizados e nos movimentos acadêmico-científicos de luta por direitos. Um exemplo de como as mulheres também estão à revelia desses espaços é o fato de que a Academia Brasileira de Ciência, que possui mais de 107 anos  de existência, só agora possui uma mulher presidenta, a pesquisadora Helena Nader. 

Nesse sentido, o movimento de pós-graduandas tem indicado alguns avanços, tendo em vista que a entidade já contou com várias mulheres presidentas. Além disso, o movimento de pós, em sua capilaridade e organização local, é majoritariamente composto por pós-graduandas, o que se reflete, por exemplo, na organização de um espaço para debater especificamente política para as pós-graduandas desde 2018, chamado “Encontro de Mulheres Estudantes da Pós-Graduação”.

III Encontro de Mulheres Estudantes da ANPG realizado em 2022, com o tema “Mulheres cientistas pela democracia: ocupar o poder e tecer um novo Brasil”. Retrata a a mesa diretora da entidade formada por três mulheres (Foto Patrícia Santos – ANPG)

Os encontros de mulheres pós-graduandas organizado pela ANPG se faz como um importante espaço de formulação e organização das mulheres pesquisadoras, que saem desse espaço com uma série de demandas a serem incorporadas como prioridades para a agenda política de todas/os pós-graduandas/os, sistematizadas na carta final do encontro. Com debates e grupos de trabalho, cria-se a oportunidade de formular a partir da realidade da diversidade do Brasil, contando com a participação de pós-graduandas de todo país. Além disso, coloca as mulheres como atuantes e protagonistas das disputas políticas gerais que estão colocadas na sociedade em determinado momento.

No último período, um importante movimento na luta pelo direito das cientistas se organizou no Brasil, o chamado Parent in Science. O grupo é misto, ou seja, formado por mulheres e homens cientistas voltados a debater a forma como a parentalidade afeta a carreira científica e acadêmica, buscando os caminhos para a superação da desigualdade de gênero, já que é notória a forma como a maternidade é transformadora para a vida das mulheres. Protagonizado pelas mães, partem do entendimento de que a parentalidade deve ser encarada como uma tarefa coletiva da sociedade, o que demanda políticas públicas de redistribuição das tarefas de cuidado que devem ser redistribuídas.

Exemplos de ações para mitigar os impactos da maternidade na carreira das cientistas (Parent in Science

A partir das mobilizações do último período, gostaríamos de destacar três recentes vitórias diretamente ligadas aos direitos das mulheres pesquisadoras: o direito à licença maternidade para as pós-graduandas bolsistas, vitória conquistada em 2017; a maternidade no Lattes conquistada em 2021, que busca relacionar publicamente a decrescência de produtividade das mulheres com a maternidade, para que se crie uma política de não penalização das mesmas e que avancemos ainda mais nesse reconhecimento; o recente anúncio do governo federal de uma “Política Nacional de Inclusão, Permanência e Ascensão de Meninas e Mulheres na Ciência, Tecnologia e Inovação”, que prevê uma chamada pública do CNPq de R$ 100 milhões, voltada para mulheres nas ciências exatas, engenharia e computação.

Assim, partindo do debate proposto e da afirmação de que “[..] é imperativo aos ativismos, inclusive o teórico, conceber a existência duma matriz colonial moderna cujas relações de poder são imbricadas em múltiplas estruturas dinâmicas, sendo todas merecedoras de atenção política.” (AKOTIRENE, 2020, p.19), propomos que atuemos em diversos caminhos, seja na atuação política no território da Universidade, seja nos movimentos sociais, seja na forma como produzimos o conhecimento e na nossa prática acadêmica cotidiana. O fundamental é a busca pela decolonização do conhecimento e da ciência produzida, assim como das “normas disciplinares” (SPIVAK, 2010), para superar o eurocentrismo e construirmos outras sociedades não neoliberais. 

Contudo, isso só será possível com mais mulheres, negras, LGBTs, da periferia das grandes cidades, do campo, ocupando a pós-graduação. Para isso, como vimos, devemos nos organizar para disputar a agenda política em curso, garantindo o acesso e a permanência das mulheres, mas também para pensarmos uma prática e uma carreira científica que dê conta da diversidade das mulheres do nosso país.


Referências bibliográficas:

AKOTIRENE, Carla. 2020. Interseccionalidade. São Paulo: Sueli Carneiro; Editora Jandaíra.

BALLESTRINI, Luciana. 2013. América Latina e o giro decolonial. Revista Brasileira de Ciência Política, nº11. Brasília, p.89-117.

BIROLI, Flávia. 2014. O público e o privado. BIROLI, Flávia; MIGUEL, Luis Felipe. Feminismo e política: uma introdução. São Paulo: Boitempo.

GEMAA. 2022. Mulheres na ciência brasileira. Disponível em: <https://gemaa.iesp.uerj.br/infografico/mulheres-na-ciencia-brasileira/>.

Jornal da Unesp. 2023. Por que as mulheres são maioria na pós-graduação, mas ocupam menos da metade dos cargos de docência nas universidades? Disponível em: <https://jornal.unesp.br/2023/03/03/por-que-as-mulheres-sao-maioria-na-pos-graduacao-mas-ocupam-menos-da-metade-dos-cargos-de-docencia-nas-universidades/#:~:text=O%20combate%20a%20estere%C3%B3tipos%20de,dos%20benefici%C3%A1rios%20de%20bolsas%2C%20tamb%C3%A9m>

Parent in Science. 2022. Parentalidade e carreira científica: o impacto não é o mesmo para todos. Disponível em: <https://www.scielo.br/j/ress/a/c7TkCBBBsYtF7nhnsDmZ83n/?lang=pt>

_________________. 2020. Mulheres e maternidade no ensino superior no Brasil. Disponível em: <https://www.parentinscience.com/_files/ugd/0b341b_6ac0cc4d05734b56b460c9770cc071fc.pdf>

SPIVAK, Gayatri Chakravorty. 2010. Pode o subalterno falar? Belo Horizonte: Editora UFMG.

Stella Ferreira Gontijo é doutoranda no Programa de Pós-graduação em História da Universidade Federal de Minas Gerais, bolsista do CNPq. Lattes: <http://lattes.cnpq.br/4794994866272483> Email para contato: sfgontijo@gmail.com


Stella Ferreira Gontijo

Doutoranda PPGH-UFMG, com bolsa CNPq. Desenvolve pesquisa com ênfase em teoria Decolonial, estudos de Gênero e História Intelectual. É pesquisadora do grupo “História Intelectual: impressos, narrativase circulação de ideias”. Graduada em História na UFMG e mestre pela UFF. Foi editora da Temporalidades (2022-2023), professora substituta UFJF (2019-2021), pesquisadora do Projeto República (2017-2020). Foi Diretora de Mulheres (2018-2020) e Vice-presidenta (2020-2022) da ANGP.


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O papel das mulheres italianas na economia, nas lutas trabalhistas e na construção do movimento operário no Brasil

Revista Casa D’Italia – Ano 4, n. 33, 2023 – ISSN: 2764-0841 | Juiz de Fora, Minas Gerais
Bárbara Sant’ Ana | O papel das mulheres italianas na economia, nas lutas trabalhistas e na construção do movimento operário no Brasil

Resumo: A imigração italiana no Brasil, entre os séculos XIX e XX, teve um papel importante na construção da economia e da cultura brasileira. As mulheres italianas desempenharam um papel fundamental na estruturação e manutenção da vida doméstica, no mercado de trabalho e na construção de comunidades fortes e unidas. Além de trabalhar na agricultura, indústria têxtil e no comércio, elas se envolveram em atividades culturais, religiosas e sociais, ajudando a preservar a cultura e as tradições italianas no Brasil. Apesar das muitas contribuições, elas enfrentaram desafios e discriminação ligados ao machismo e xenofobia, além de barreiras linguísticas e culturais. Porém, a perseverança e o trabalho duro das mulheres italianas ajudaram a construir uma forte comunidade italiana no Brasil, exemplo de resiliência e determinação das mulheres em todo o mundo.

Palavras-chave: Mulheres, Trabalho, Lutas trabalhistas, economia.

Abstract: Italian immigration to Brazil, between the 19th and 20th centuries, played an important role in the construction of the Brazilian economy and culture. Italian women played a fundamental role in structuring and maintaining domestic life, in the labor market and in building strong and united communities. In addition to working in agriculture, textiles, and non-commercial industries, they were involved in cultural, religious, and social activities, helping to preserve Italian culture and traditions in Brazil. Despite their multiple contributions, they had to face challenges and discrimination related to machismo and xenophobia, as well as language and cultural barriers. Therefore, the perseverance and hard work of Italian women helped to build a strong Italian community in Brazil, an example of the resilience and determination of women around the world.

Key words:Women, Work, Labor struggles, economy.

Riepilogo: La inmigración italiana a Brasil, entre los siglos XIX y XX, jugó un papel importante en la construcción de la economía y la cultura brasileñas. Las mujeres italianas juegan un papel fundamental en la estructuración y el mantenimiento de la vida doméstica, en el mercado laboral y en la construcción de comunidades fuertes y unidas. Además de trabajar en agricultura, textiles e industrias no comerciales, estarán involucrados en actividades culturales, religiosas y sociales, ayudando a preservar la cultura y las tradiciones italianas en Brasil. A pesar de sus múltiples aportes, enfrentarán desafíos y discriminaciones vinculadas al machismo y la xenofobia, así como barreras idiomáticas y culturales. Por lo tanto, la perseverancia y el arduo trabajo de las mujeres italianas ayudarán a construir una comunidad italiana fuerte en Brasil, un ejemplo de la resiliencia y determinación de las mujeres en todo el mundo.

Parole chiave: Mujeres, Trabajo, Luchas laborales, economía.

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A imigração italiana no Brasil, que ocorreu principalmente entre os séculos XIX e XX, teve um papel significativo na construção da economia e da cultura brasileira. A pobreza, falta de oportunidades e conflitos políticos foram algumas das razões pelas quais muitos italianos vieram para o país, além dos incentivos do Estado brasileiro como parte de políticas de embranquecimento, visando a substituição gradual dos trabalhadores negros pelos brancos, no pós abolição. Estima-se que cerca de um milhão e meio de italianos chegaram ao país até o ano de 1950. 

No contexto da imigração italiana para o Brasil, as mulheres desempenharam um papel fundamental tanto na estruturação e manutenção da vida doméstica e comunitária, quanto na economia. As mulheres italianas que imigraram para o Brasil trabalharam na agricultura, na indústria têxtil, no comércio e em outras atividades econômicas, além dos cuidados do lar. Estudos recentes mostram que a presença das mulheres italianas no mercado de trabalho contribuiu para a dinamização da economia brasileira em determinadas áreas. Além do trabalho fora de suas casas, as mulheres italianas geralmente acompanhavam seus maridos e famílias, cuidando das tarefas do lar.

Na agricultura, as mulheres italianas muitas vezes trabalhavam em plantações de café, algodão e outras culturas. Realizavam diversas tarefas, como a colheita, a seleção e o processamento de alimentos, o que contribuiu ativamente para a economia local. Elas também desempenharam um importante papel na indústria têxtil, principalmente trabalhando em fábricas de tecidos e confecções no período de industrialização do Brasil. As mulheres italianas também se envolveram em atividades comerciais, como o comércio de alimentos, roupas e outros produtos. Muitas delas abriram pequenos negócios, como padarias, lojas de roupas e mercearias, para sustentar suas famílias e contribuir para o desenvolvimento econômico. 

Além disso, essas mulheres desempenharam um papel importante na construção de comunidades fortes e unidas. Elas se envolveram em atividades culturais, religiosas e sociais, ajudando a preservar a cultura e as tradições italianas no Brasil. A presença italiana no Brasil é evidenciada pela existência de clubes italianos, festivais, monumentos e outras manifestações culturais que são mantidas até os dias de hoje, graças ao esforço das mulheres italianas e suas famílias em manter viva a sua cultura.

Apesar das muitas contribuições das mulheres italianas para a economia e a cultura brasileira, elas enfrentaram desafios e discriminação, muitas vezes ligados ao machismo e a xenofobia. Infelizmente, muitas vezes, as mulheres recebiam salários mais baixos do que os homens e eram submetidas a condições de trabalho precárias. Essa realidade, infelizmente, ainda é enfrentada por mulheres em diversas áreas de atuação, mesmo nos dias atuais. Além disso, as imigrantes italianas enfrentavam barreiras linguísticas e culturais, o que tornava difícil a sua integração na sociedade brasileira. Em muitos casos, elas não falavam o idioma local e não estavam familiarizadas com os costumes e tradições do país, o que gerava dificuldades na comunicação e na adaptação ao novo ambiente. 

No entanto, a perseverança e o trabalho duro das mulheres italianas ajudaram a construir uma forte comunidade italiana no Brasil, que até hoje é reconhecida por suas contribuições para a economia e a cultura do país. As italianas ajudaram a estabelecer uma rede de apoio e solidariedade, que permitiu a elas e às suas famílias superar os obstáculos e desafios da imigração. O papel das mulheres italianas na imigração para o Brasil é um exemplo importante da resiliência e da determinação das mulheres em todo o mundo, que continuam a desempenhar um papel fundamental na construção de sociedades mais justas e igualitárias.

Com a vinda destas tantas mulheres para o Brasil durante o final do século XIX e início do século XX, em busca de melhores oportunidades de trabalho e de vida, vieram as suas lutas e as suas experiências. Como no caso do conhecimento de prática na organização sindical, na militância política e na luta pelos direitos trabalhistas e sindicais. Com isso, muitas se tornaram líderes em suas comunidades e lutaram por seus direitos, tanto nas fábricas como nas ruas, o que contribuiu para o desenvolvimento do movimento operário e das lutas trabalhistas no Brasil. Isso porque as mulheres italianas que chegaram ao Brasil tiveram que enfrentar muitos desafios, incluindo a exploração no trabalho. Muitas delas trabalhavam em fábricas têxteis, nas quais eram submetidas a longas jornadas de trabalho, baixos salários e péssimas condições de trabalho. Essa realidade levou as mulheres a se organizarem em sindicatos e associações, para lutarem por melhores condições de trabalho e por seus direitos.

De acordo com Raquel Paz dos Santos em “Nascem as rosas entre os espinhos: a participação da mulher no movimento operário no Brasil e na Argentina”, a classe operária formada por mulheres, crianças, imigrantes europeus e analfabetos, não possuía tantos meios de lutas como os homens, mas isso não impediu a organização de greves e movimentos sindicais nas primeiras décadas do século XX. Um importante nome nestes movimentos foi o de Ernestina Lesina, que fundou a “Associação de Costureiras de Sacos” em 1906 e incentivou a luta trabalhista. Cinco anos antes, cerca de 700 mulheres se manifestaram contra a Fábrica de Tecidos Sant’anna, no Rio de Janeiro (SANTOS, 2015, p. 259 – 261), dentre estas, muitas italianas.

Em 1917, ocorreu uma das maiores mobilizações operárias da história do Brasil, da qual as mulheres italianas também participaram ativamente e se destacaram nas manifestações e nas negociações com os patrões, sendo reconhecidas por sua coragem e determinação. A grande greve foi motivada tanto pelas condições precárias de trabalho, quanto pelo receio da possibilidade de o Brasil ingressar na Primeira Guerra Mundial.

As mulheres italianas foram atuantes na luta pelo sufrágio feminino no Brasil, que se intensificou a partir do final do século XIX. Elas reivindicavam o direito ao voto e a uma maior participação política das mulheres na sociedade brasileira. A partir da década de 1920, as reivindicações pelo voto feminino se tornaram mais organizadas e ganharam maior visibilidade, com a criação de grupos e organizações específicas para a luta pelos direitos das mulheres, como a Federação Brasileira pelo Progresso Feminino (FBPF), criada em 1922. As mulheres italianas participaram ativamente desses movimentos, contribuindo com suas ideias, ações e mobilizações em prol do sufrágio feminino. Elas se juntaram a outras mulheres brasileiras e estrangeiras para pressionar o governo e a sociedade em geral pela concessão do direito ao voto feminino, participando de manifestações, greves e outras formas de protesto.

A luta pelo sufrágio feminino no Brasil culminou na conquista do direito ao voto feminino em 1932, após anos de intensa mobilização e pressão por parte das mulheres brasileiras. A partir de então, as mulheres italianas e brasileiras puderam exercer seu direito ao voto e participar ativamente da vida política do país, contribuindo para a construção de uma sociedade mais democrática e justa

Em suma, as mulheres italianas tiveram um papel fundamental nas lutas trabalhistas e na construção do movimento operário no Brasil. Elas lutaram por melhores condições de trabalho, por seus direitos e pelo sufrágio feminino, contribuindo para a transformação da sociedade brasileira. Suas histórias e lutas são exemplos de coragem, determinação e luta por justiça social e igualdade de direitos.

A primeira viagem de imigrantes italianos para o Brasil começou no dia 3 de janeiro de 1874, no porto de Gênova, no Vapor “Sofia”. Foto: Adriático.
Mural em Homenagem a Imigração Italiana. Débora Daros e Alexandre Chamba. Capela de Santo Antônio. Alto Gasparinho.

Referências bibliográficas

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Bárbara Sant’ Ana

Cursa Bacharelado em Direito na Faculdade Metodista Granbery. Possui experiência em projetos de integração de comunidades imigrantes em Juiz de Fora, sobretudo venezuelanos. Se interessa em assuntos diversos relacionados a imigração italiana em Minas Gerais, do fim do século XIX aos dias atuais.


TOPO

Autores:
Fernanda Isaac
Camila Galetti
Ismael Nunes
Paula Nathaiane da Silva
Sandra Nicoli
Erika Neder
Stella Ferreira Gontijo
Bárbara Sant’ Ana

Capa:
Anna Flávia Carneiro

Revisoras:
Tássia Souza
Ana Lúcia Jensen

Projeto Gráfico:
Rafael Moreira Teixeira

Coordenação Geral:
Rafael Moreira Teixeira

Edição:
Paola Maria Frizero Schaeffer
Dalila Varela

Assistente editorial:
Camila Sá de Oliveira
Helena Amaral Sant’Ana
Adrielly Ramos de Lima
Guilherme Abizaid David
Tamiris de Moura N. Rosa
Milene do Carmo Gomes
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Auxiliar:
Camisa Sá de Oliveira

Site:
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Mídias sociais:
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Diagramação:
Thaiana Fernandes Pinto Gomes

Captação e edição de áudio e vídeo:
Vinícius Sartini da Silva

Apoio:
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Vinícius Sartini
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Patrícia Ferreira Moreno
Arlene Xavier Santos Costa
Louise Torga
Paulo Jose Monteiro de Barros
Ana Lewer
Thaiana Fernandes
Dalila Varela

Realização:
Duplo Estúdio de Criação
Departamento de Cultura da Associação Casa de Itália

Periodicidade:
Mensal

ISSN: 2764-0841