Revista Casa D’Italia, Juiz de Fora, Ano 3, n. 28, 2022 – Adrielly Ramos | Turismo e patrimônio
O turismo é uma atividade que atinge diversos setores, desde a economia até a agropecuária, movimentando capital diariamente, influenciando grandemente o PIB (produto interno bruto) dos países. Entretanto para que tal atividade aconteça, é necessário que existam atrativos para visitantes, que exista motivação, fazendo assim com que as pessoas tenham vontade de viajar e de conhecer novas culturas e lugares.
Com isso, podemos analisar diversos atrativos ao redor do mundo, que contam histórias, cada um de forma mais autêntica possível, e outros que criam espaços novos para serem descobertos, nos levando a querer viajar e conhecer novos espaços com novas histórias cada vez. Para que essa motivação seja plantada nos visitantes, cria-se o imaginário, desde histórias contadas de outros viajantes até propagandas em redes sociais, que criam cenários e/ou histórias possíveis em determinado destino, nos motivando a querer viver uma nova aventura.
Logo, cada destino necessita de infraestrutura adequada para receber seus visitantes, e atender às expectativas dos turistas, criando ou modificando novos e antigos atrativos. Mas necessitamos entender pioneiramente como os atrativos funcionam, e como se organizam para que o turista entenda a narrativa do lugar.
De acordo com Lohmann Netto (2002, p. 89), “atrações turísticas constituem a essência da indústria do turismo; são elas que primeiramente motivam as pessoas a empreender uma viagem”. Logo, diversos monumentos, famosos ou não, tornam-se atrativos que não são, por princípio, turísticos, mas que acabam por atender a causa de tal atividade socioeconômica. Todos os recursos (equipamentos urbanos, por exemplo) são potenciais atrativos capazes de fomentar a atividade turística de um local, mas nem sempre tal estrutura está sendo satisfatoriamente utilizada. Segundo Fois-Braga (2022, p. 6), “os atrativos presentes em uma territorialidade são os responsáveis por constituir uma narrativa / imaginário sobre o destino, logo, não podemos ignorar que existem boas e más histórias sendo construídas com e a partir deles.”
Assim, podemos compreender que, os atrativos criam a motivação dos visitantes, mas podem ser diversos. A maioria são patrimônios, os quais carregam muitos conceitos e significados consigo e atualmente esse tipo de atrativo obteve mais reconhecimento de sua importância e significado, por carregar memória e afetividade das pessoas que o construíram, ou que participaram de alguma forma.
Patrimônios possuem diversas finalidades, uma delas é ser instrumento de lazer para a população. O lazer é um direito fundamental do cidadão, embora frequentemente nos esqueçamos que temos (ou deveríamos ter) acesso a espaços de lazer. Instrumentos de lazer, são locais ou estruturas adequadas que a população possa utilizar em seu momento de ócio. Com isso, podemos observar que existem diversos espaços que são patrimônios, que a sociedade utiliza para seu relaxamento da vida cotidiana.
Espaços como ruas, museus, estações ferroviárias e até mesmo a praia, são utilizados diariamente por todas as idades em seu momento de ócio, para brincar, ler, se distrair, relaxar, entre outras formas de divertimento. Dessa forma, a pessoa cria laços e vínculo com o local, criando assim uma memória afetiva sobre o espaço, tornando-o cada vez mais vivo em nossa lembrança.
É necessário compreender que patrimônios, de forma geral, são atrativos que geram renda e despertam interesse de visitantes para alguns destinos. Logo, sua manutenção e preservação se faz necessária, para que o fluxo de visitas não diminua. Esse pensamento é, de certa forma, mercadológico, pois visa apenas tirar lucro do espaço em questão. Embora tenhamos essa primeira visão de mercantilização de um lugar cheio de significados, é preciso pôr em questão toda vigência de um espaço cultural com anos de histórias a ser apresentado.
Acredita-se que lugares antigos e atuais que já vivenciaram cenas históricas e/ou são utilizados como ferramentas de uso cotidiano, possuem camadas, que contam a narrativa naquele local. Assim, não somente lugares grandiosos podem ser entendidos como patrimônio, mas também locais do cotidiano que geram memória afetiva nas pessoas.
Um exemplo é a própria Central do Brasil, situada no Rio de Janeiro, que de certa forma é uma construção grandiosa, mas que infelizmente é vista como um local somente de passagem, não dando a devida importância que ela merece. Apesar disso, esse espaço não deixa de ser um patrimônio com memórias, camadas e história, de pessoas renomadas e de pessoas da sociedade carioca, que passam por ali para embarcar no transporte público oferecido no local.
Logo, podemos entender que tais camadas citadas acima, compõem a narrativa do atrativo/patrimônio, nos levando a entender que camadas constroem a história do local, quando visitamos o espaço ou quando passamos por ele. O palimpsesto é um conceito que aborda claramente o que estamos falando, nos mostrando que mesmo que tentem apagar a memória de um local ela sempre permanecerá viva de alguma forma, segundo Pesavento ( 2004), palimpsesto é:
uma escrita que se oculta sobre outra, mas que deixa traços; há um tempo que se escoou mas que deixou vestígios que podem ser recuperados. Há uma superposição de camadas de experiência de vida que incitam ao trabalho de um desfolhamento, de uma espécie de arqueologia do olhar, para a obtenção daquilo que se encontra oculto, mas que deixou pegadas, talvez imperceptíveis, que é preciso descobrir (PESAVENTO, 2004, p. 26).
Dessa forma, entende-se que os patrimônios em sua maioria, possuem grandes histórias a serem contadas, cada um de uma forma diferente, carregando significados e acontecimentos importantes, que ao longo do tempo podem ser esquecidos por alguns, mas que nunca deixarão de fazer parte de sua história. Tudo que um patrimônio vivenciou fica exposto em suas camadas, mesmo que tentem apagar a memória daquele espaço, suas histórias e presença permaneceram ali, seja em sua estrutura ou sobre imaginários que foram passados hereditariamente.
Referências bibliográficas:
FOIS-BRAGA, Humberto. Contextualização dos atrativos: O atrativo como engrenagem do turismo. 25 de abril de 2022. Apresentação do Powerpoint. Disponível em: https://classroom.google.com/u/2/w/NDYxOTk4NTk5OTY5/t/all. Acesso em 27 de jul. 2022.
LOHMANN, Guilherme; NETTO, Alexandre. Teoria do turismo Conceitos, modelos e sistemas. São Paulo: Editora Aleph, 2002.
PESAVENTO, Sandra. Com os olhos no passado: A cidade como palimpsesto. LUME, repositório digital, Universidade Federal de do Rio Grande do Sul, p. 6, 2004.

Adrielly Ramos
Turismóloga em curso (pretendo me formar nesse semestre mesmo 2022.3) estou no oitavo período da graduação. Estudante da Universidade Federal de Juiz de Fora, pude ampliar meus estudos e começar a pesquisar sobre atrativos, que engloba assuntos como: patrimônios, questões sociais, arte e entre outros. Tenho pretensão de me aprofundar nos assuntos citados, com o fim de ampliar minha caminhada acadêmica.